Folha de S. Paulo


O que os homens precisam saber sobre '50 Tons de Cinza'

Não vou escrever sobre o filme. Isso já foi feito ontem, perfeitamente, pela colega Barbara Gancia, em sua crítica na Ilustrada. Não fui e não pretendo ir ao cinema. Ler o livro já foi tortura suficiente. Na metade dele, eu queria ser amarrada, amordaçada e levar uns petelecos. Quem sabe assim, perderia a vontade de dormir. Que tédio.

O livro é de uma chatice sem fim –além de ser repetitivo e mal escrito. Mas ele revela coisas sobre as mulheres que não têm nada a ver com sexo, nem com quartos escuros, algemas e chicotes. É a mensagem por trás da sacanagem soft porn que explica os 100 milhões de exemplares vendidos e o frenesi em torno de sua estreia nas telonas.

Vivemos num tempo em que vale tudo no sexo. Tem maluco que gosta de comer coco, outros de levar uma golden shower. Festinha sadomaso tem página no Facebook. O que "50 Tons de Cinza" mostra não é novidade pra ninguém, ao menos na teoria.

As mulheres à beira de um ataque por causa de um livro e agora por um filme não se descobriram adeptas de "um tapinha não dói" de ontem pra hoje. Muitas nunca tiveram um orgasmo com sexo limpinho, imagine o que seria dar um passo em direção às trevas da sacanagem.

O que, então, o senhor Grey tem, além de ser gato, ter dinheiro e levar a mocinha para passear de jatinho –pilotando seu próprio jatinho? Tem para dar o que milhões e milhões de mulheres querem: romance.

Na vida real, não conheço nenhuma garota desesperada para se envolver com alguém que seduz por meio de força, agressão física e moral, ainda que muitas estejam dispostas a vender um rim para casar.

As maiores armas de conquista de Grey não estão dentro do quartinho de tortura. Ele é rico, bonito, tem um abdômen trincado, pau duríssimo, mora numa apartamento de revista, é presidente de uma empresa e tem a cabeça cheia de problemas. E o mais importante de tudo: ele cria situações românticas, elogia, faz a mocinha se sentir a mulher mais linda e desejada do quarteirão, compra roupas, carro novo, paga as contas, protege a fofa das maldades da vida, menos dele mesmo.

Bingo. Todas suspirando. De quatro.

Se você é homem, mas não é rico, não tem jatinho nem quarto de sacanagem, pode respirar aliviado. Um jantar romântico, flores sem motivo, mensagens carinhosas, presentinhos inesperados e atenção, atenção de sobra, podem ter o mesmo efeito. Se for um pouco complicado também ajuda. Mulher tem essa mania de querer consertar homem. Aquela coisa de que "comigo será diferente". É batata na ficção e na vida real. Com jatinho ou no ponto de ônibus, desde que seja com muito romantismo. É careta, mas é isso.


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