Folha de S. Paulo


Podia estar matando, roubando

Todo dia alguém reclama que não se fala de outra coisa. Pois é. Eu podia estar matando, podia estar roubando, mas estou aqui e nas redes sociais falando de eleições. Não vejo outro assunto que seja mais oportuno e importante neste momento.

Sempre penso onde essas pessoas estavam quando até ontem política era um assunto proibido. Política era um assunto que dava cana. Política era um assunto que matou muita gente que ousou discordar da política. Talvez não tivessem nascido, talvez tenham faltado às aulas de história. Talvez só achem que tanto faz como tanto fez. Talvez prefiram reclamar do horário de verão.

Eu também prefiro falar de amenidades. Mal termino a coluna do caderno "Eleições", já me ocupo do que eu gosto de chamar de "meu tricô semanal", que vai ao ar no site da Folha todas as quintas. Nesta semana, por exemplo, ainda não sei se falo do vibrador da Luana Piovani ou do botox da Renée Zellweger.

Continuo postando minhas fotos do projeto #vaigordinha #verãosemburca, do chope gelado que tomei ontem com uma amiga, do piquenique de coxinha a que fui, onde só tinha vinho e espumante, da viagem que fiz para as cataratas do Iguaçu.

Mas não tem um dia que eu não fale de política. E vejo muita gente fazendo o mesmo. Com alguns dá para conversar, com outros para brincar, e já acho que vale encarar até alguns arranca-rabos. Está cheio de gente, cheia de razão, sem paciência e sem noção. Alguns para mim, eu para outros. Mas estamos lá, firmes em nossas chatices. É a tal da briga boa.

Sim, é chato, mas também é chato ver gente que bateu palmas para as manifestações de junho do ano passado se mostrar aborrecida com o assunto em pauta. Estamos lendo mais notícias, compartilhando mais links, desmentindo notícias, deletando links.

Acho que vale tudo nesta reta final. Mudar a foto do perfil com a cara ou número do candidato. Bancar o cientista político, mesmo sem saber o que são as siglas dos partidos. Gravar depoimentos em vídeos para descascar o candidato desafeto. Fazer piada do cabelo de um e do botox do outro. Nesse fuzuê, o que importa é fazer parte.

As redes sociais nem são uma grande novidade, mas pela primeira vez o assunto tomou conta da timeline. É um tremendo avanço. Quanto mais a gente fala, mais a gente se informa. Quanto mais a gente discute, mais ouvimos o que o outro fala. Talvez não. Mas, só de o assunto mais importante do momento ser o assunto mais falado do momento, percebe-se que estamos amadurecendo ao menos um tiquinho, mesmo aos trancos e barrancos.

Mas, se você prefere ficar nas amenidades, as cataratas são mesmo um espetáculo. Do lado brasileiro é mais organizado; do lado argentino, mais orgânico. Só não caia na pegadinha do passeio de catamarã, depois de ver a Itaipu. Tinha um cara tocando ukulele, uma moça distribuindo colares havaianos e drinques coloridos. Fingi que passei mal e nos livramos do programa de índio, nível três machadinhas. Por falar em índio, as bolsas feitas pelas índias guarani são um must-have. Combinam com tudo. Comprei duas para mim e uma para dar de presente. Vou usar uma delas para votar no próximo domingo.


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