Folha de S. Paulo


George Clooney agrega valor

"O que essa moça tem?", todo mundo se perguntou quando correu o mundo a notícia que o solteirão de carteirinha resolveu jogar a toalha e correr pro abraço. Nessa hora ninguém mais queria saber de George. A pergunta era: quem é Amal Alamuddin? No mesmo dia já era possível ler em vários sites 'Cinco coisas que você não sabia sobre a noiva de George'.

Amal nasceu no Líbano, se formou em Oxford e na New York University, mora em Londres, fala inglês, francês e árabe fluentes. Advogada, especialista em direito criminal, direito internacional, extradições e direitos humanos. Antes de deletar o seu perfil no Twitter era seguida por Asthon Kutcher e pela primeira ministra australiana, Julia Gillard. E foi também considerada a advogada mais sexy de Londres por um Tumblr qualquer.

Nada disso importa. Ela poderia ser a gata borralheira, mas foi escolhida por ele. E mesmo que essa história de amor acabe em três meses, Amal nunca mais será ninguém. Inclusive para nós que não somos advogados e não temos taras com pessoas vestidas de ternos e togas.

Funciona assim para todo mundo que bate o cartão na firma, parcela as férias na CVC e tem crediário na C&A. Se você é um pessoa minimamente interessante vai automaticamente dar um verniz em qualquer pessoa que passar na sua vida. Bem, noites de amnésia alcoólica sempre podem servir de álibi para um deslize.

Mas no dia que a gente assume o relacionamento com alguém, está dizendo para o mundo que aquela pessoa é legal, bonita, boa de cama, engraçada, inteligente, descolada. Colocamos um carimbo de "vale a pena". E nessa hora até o ser mais sem graça do mundo ganha cor, brilho, encantamento que ninguém antes tinha notado.

O que foi mesmo que eu perdi? Por que nunca reparei? É, ele é interessante. Interessante é o melhor adjetivo para elogiar alguém quando a gente não sabe bem por que está elogiando.

Aquele jeito esquisitão tem lá seu charme. Ele é muito perspicaz. Posso jogar fora aqueles Crocs. Ele fala holandês. Passou seis meses numa comunidade hippie em Montenegro. Logo ele enjoa de Angry Birds. Aqueles vinis do Oswaldo Montenegro... Ele é... sabe, né?

Não, não sei.

Vi isso acontecer com duas conhecidas que quase se engalfinharam por causa de um cara que a maioria de nós não pediria ajuda nem pra tirar as compras do carro. Cara de bobo, jeito de bobo, roupa de bobo. Sim, talvez ele seja a oitava maravilha do mundo das mulheres desesperadas. Talvez ele seja carinhoso, amoroso, atencioso e ainda faça o canguru perneta.

Por que mesmo ninguém tinha reparado nele? Porque faltava o carimbo do "vale a pena", que foi dado por uma terceira conhecida. Quando essa garota, que é legal, inteligente e tem meia dúzia de outros predicados se atracou com o fulano, jogou nele um holofote.

Já aconteceu comigo. Namorei um cara que era bonito, popular, do tipo encantador. Aos olhos das amigas dele, eu não era nada disso. Me olhavam como quem disseca uma rã. Uma delas, fiquei sabendo, disse que estava aprendendo a gostar de mim. Imagino o esforço.

O namoro acabou, mas até hoje quando encontro as fulanas elas devem se perguntar, afinal, o que eu tenho. Porque o carimbo de ter namorado um cara que todo mundo acha o máximo ficou na minha testa.

Isso revela um tanto de egocentrismo e de insegurança. A gente não olha para o lado até que a grama do outro fica reluzente de tão verde. Mas quando olha, tem medo de assumir o que gosta. É mais fácil escolher alguém com test-drive feito.

Olhando pelo outro lado, muitas vezes a gente valoriza o passe de quem não vale nada e compromete a felicidade de um futuro alheio.

Sobre Amal e George só digo uma coisa, essa história tem todos os elementos de uma boa comédia romântica. O solteirão convicto encontra a advogada de direitos humanos, que na verdade é uma princesa. Amal Alamuddin. Com esse nome só pode ser princesa. E em seis meses ele se ajoelha e pergunta o que a maioria de nós gostaria de ouvir: quer se casar comigo?

PS. Algumas amigas disseram que ele não precisaria nem se ajoelhar. Poderia ser por sinal de fumaça, telepatia, código braile, disse uma. Eu aceitaria até por whatsapp, falou outra. Eu tenho fax, brincou uma terceira. Amal, pode ficar tranquila, se não der certo, não vai faltar pretendente. George valoriza o passe.


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