Folha de S. Paulo


Forever 21: vim, vi, venci, parcelei e voltarei

A gente fala que não vai, debocha, faz chacota, aponta o dedo, recrimina, desdenha, empina o nariz, faz cara de rica.

O quê? Cinco horas de fila por uma roupinha? E quando se dá conta está lá disputando uma camisetinha de R$ 8,90 nas araras estrangeiras, parcelando tudo em três vezes no cartão.

Sim, tem um monte de gente que não entende. Ou é homem ou é rico ou acha que capitalismo é coisa do demo. Ou é só chato mesmo. Quem não sabe o que é disco pants nunca vai entender o que passa na cabeça de uma mulher quando ela cisma que quer uma roupa nova.

Falei que não enfrentaria aquele tumulto nem se Chanel fizesse fast fashion para Forever 21. Detesto fila. Não suporto aglomeração. Tenho preguiça de muita mulher no mesmo lugar.

Mas sobre moda tenho três certezas. Nunca mais na vida uso calça baggy, tenho dó do meu dinheiro e Chanel estava locona quando veio com aquele papo de que uma mulher só precisa de duas coisas: um vestido preto e um homem que a ame. É uma frase ótima para colocar no Facebook e contabilizar uns likes. Mas é tudo mentira. Um vestido preto é só UM maldito vestido preto - mesmo que seja Chanel. A gente quer mais.

Recebi convite para a pré-venda. Me vi possuída pelo demo e abduzida até local. Há testemunha.

Não tinha fila para entrar. Tudo mais organizado que o guarda-roupa de um amigo que tem toc. Chandon servida a rodo. Não era Nova York, mas era preço de Nova York. Bem civilizado, até que percebi um homem me seguindo. Não era xaveco. Ele queria o vestido que eu sacudia em minha mãos. Pronto, guerra.

Reprodução/Instagram/morumbishoppingsp
Abertura da 1ª loja da Forever 21 no Brasil causa filas em shopping de SP
Abertura da 1ª loja da Forever 21 no Brasil causa aglomeração em shopping de SP

Gente se engalfinhando entre as araras. Garçom, mais um Chandon. Saia bordada por R$ 92,90. Sim! Brinco por R$ 15,90! Quero dois! Pijaminha luxurento por R$ 41,90. Vai ter festa no apê. Garçom, minha taça está vazia. Vestido por esse preço nem na 25 de Março.

Filas homéricas nos provadores.

Beijinho no ombro pra fila. Lá estou eu no cantinho da loja dentro de um provador humano que se revezava. Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças, já dizia Darwin. A gente se adaptou rapidinho ao biombo improvisado.

Amei isto, onde você pegou? Não ficou bom, está meio apertado. Acho que vou levar para a minha irmã. Será que tem maior? Esta calça emagrece.
Amizades que nascem nas adversidades.

Na fila do caixa - de duas horas - a escapatória foi o garçom. Deu tempo pra filosofar sobre a economia, entender o histerismo e abaixar o dedo que a gente adora apontar para os outros. Vesti a carapuça de histérica consumista. Me julguem.

Duas sacolas cheias pelo preço de um vestido de revista.

Se não for o conto do preço baixo só na semana de abertura, vale a fila, vale o mico, vale aguentar o dedo na cara. Para o raio que os parta os homens, os ricos, quem acha que capitalismo é coisa do demo. Uma banana para os chatos. Vamos ser felizes com as nossas roupinhas novas, lindas e baratas.


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