Folha de S. Paulo


Corre, Petrúcio! O novo ídolo do Brasil nas pistas do atletismo

O Brasil saiu dos Jogos de Londres com um novo ídolo. Aos 20 anos, o velocista Alan Fonteles havia desbancado o badalado Oscar Pistorius, era a nova cara do atletismo paraolímpico do Brasil.

Quatro anos depois, Fonteles mostrou na pista o peso que uma conquista como essa pode trazer. Passou por um período sabático, ficou distante da melhor forma física, fez treinos ruins. O resultado se viu no Engenhão: não obteve medalhas em provas individuais.

As pistas, no entanto, não ficarão órfãs. O Brasil sai dos Jogos do Rio com um novo ídolo, que corre para se tornar o mais veloz atleta paraolímpico da história.

Petrúcio Ferreira tem 19 anos e bateu dois recordes mundiais em dois dias. Levou o ouro da classe T47 (atletas com deficiências em membros superiores) com 10s57.

Divulgação
Petrúcio Ferreira comemora na pista do Estádio Olímpico (Foto: Rio 2016/Brandão)
Petrúcio Ferreira comemora na pista do Estádio Olímpico (Foto: Rio 2016/Brandão)

O novo recorde é a segunda marca mais veloz de qualquer classe do para-atletismo, empatada com a de Alan Fonteles na T44 (atletas com amputação das duas pernas), que corre com duas próteses. Perde apenas para os 10s46 de Jason Smyth, que não tem parte da visão.

No último Troféu Brasil de Atletismo, Petrúcio ficaria entre os dez mais velozes do país.

E ele tem apenas três anos de carreira. O paraibano conheceu o esporte depois de assistir a uma reportagem sobre a Paraolimpíada de Londres-2012. Ficou impressionado com os feitos de Yohansson Nascimento, bronze no pódio a seu lado no Rio. Antes, havia tentado o futebol.

O velocista não tem parte do antebraço direito. Sofreu um acidente com uma máquina de moer capim quando tinha dois anos.

Para os leigos, parece uma deficiência pequena. Afinal, ele corre com as pernas. Mas para um corredor, o trabalho dos membros superiores também é importante. Atingir uma boa performance sem um deles (ou sem os dois) exige muito treino e controle corporal.

Preste atenção quando você corre. Cada vez que ergue uma perna para fazer a passada, tende a jogar para a frente o braço do lado oposto.

Segundo Irineu Loturco, doutor em treinamento esportivo e diretor técnico do NAR (Núcleo de Alto Rendimento), isso acontece para gerar estabilidade na corrida.

Sempre que o atleta flexiona o quadril, elevando a perna à frente, após aplicar força contra o solo, ele gera um movimento de rotação no quadril. Levando o braço à frente, o corredor consegue contrabalançar essa rotação.

Petrúcio, por não ter parte do antebraço, tem menos massa para estabilizar esse movimento de torção. Por isso, tem uma corrida menos estável. Ele briga muito mais a cada passada para se manter em linha reta.

Conhecendo a dinâmica da corrida, os feitos dele se tornam ainda mais emblemáticos.

Sua evolução é impressionante. Em 2015, venceu o Open, no Brasil, com 10s87. No Pan, no mesmo ano, cravou 10s77. Nas eliminatórias da Paraolimpíada, fez 10s67, quebrando o recorde mundial que durava 20 anos. Marca que bateu de novo para conquistar o ouro.

Logo depois do feito, o corredor foi questionado se poderia se tornar o primeiro paraolímpico a correr os 100 m abaixo dos 10s. Se conseguir, será também o primeiro brasileiro a atingir o feito. Com ou sem deficiência.


Endereço da página:

Links no texto: