Folha de S. Paulo


Torcida brasileira incentiva, mas precisa melhorar educação

Bastou Paula Pareto pisar no tatame para se tornar um alvo potencial de vaias. Ela não havia feito nada de errado. Atleta, 1,50 m e 48 kg, queria apenas lutar. Mas carregava costurada no quimono uma bandeira da Argentina.

Por esse motivo banal, alguns torcedores que foram à Arena Carioca 2 incentivar Sarah Menezes na busca pelo bicampeonato olímpico decidiram perseguir a argentina.

Pareto mostrou ser grande. Venceu uma a uma as lutas e se tornou a primeira mulher de seu país a conquistar uma medalha de ouro olímpica. A maior parte dos torcedores se rendeu a seu talento e aplaudiu, calando quem vaiou.

Pano rápido para a piscina olímpica. Os nadadores alinham para a largada, brasileiros incluídos. Os gritos começam, e nunca param. O narrador pede respeito e diz que é hora de fazer silêncio. Gritos continuam a pipocar, como se as pessoas disputassem um campeonato para ver que voz é ouvida por último. A cena se repetiu nos três dias de disputas, em finais e eliminatórias. Um susto na hora da largada pode levar o nadador a saltar antes da hora e ser desclassificado.

Na arena de ginástica, o atleta voa no ar quando espocam os flashes. Antes de o próximo ginasta se arriscar numa acrobacia, o narrador avisa: a luz pode atrapalhar. Mas a foto para o Instagram é mais importante, e o botão do flash continua "on".

A Olimpíada começou para valer há dois dias. A torcida brasileira tem dado um show na hora de incentivar, com um calor e uma vibração que tem contagiado e espantado os atletas. Mas ainda precisa de algum treino quando o assunto é respeito.


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