Folha de S. Paulo


Uso de doping também está disseminado entre os atletas amadores

Quando assistimos a uma performance avassaladora nos Jogos Olímpicos, muitas vezes nos pegamos com aquela pulga atrás da orelha: será que o atleta está dopado?

O acúmulo de casos ao longo da história, somado a escândalos de uso sistemático de substâncias dopantes, acobertamento de testes positivos e campeões perdendo suas medalhas contribuem para gerar essa suspeita.

Mas você, que faz seus treinos na academia, pegou gosto por algum esporte e começou a disputar provas por aí, já parou para pensar se os adversários que estão chegando à sua frente podem também estar dopados?

A competição que se cria entre os amadores, a pressão para melhorar os resultados, a vontade de impressionar os amigos. Tudo isso pode ser motivo para que atletas de fim de semana –ou mais do que isso– estejam copiando os maus exemplos dos profissionais.

Uma investigação encomendada pela UCI (União Ciclística Internacional) classificou como endêmico o uso de doping nos eventos de ciclismo para esportistas amadores e de categorias master.

O relatório aponta que executivos com mais de 40 anos estão treinando tanto quanto profissionais e vencendo provas à base de, por exemplo, EPO, um hormônio que aumenta o número de células vermelhas do sangue, dando mais fôlego aos competidores. Em eventos profissionais, a substância é considerada doping. Quem é flagrado sofre suspensão e perde as medalhas que conquistou.

Os oficiais da UCI também ouviram dos ciclistas que há uma sensação disseminada de que não há risco em se dopar em torneios amadores porque raramente serão testados. É fácil trapacear sem ser descoberto. O acesso a informações e a drogas está mais simples, facilitado pela internet, e os custos são mais baixos.

O uso de substâncias proibidas por amadores e masters não está restrito ao ciclismo. Casos em provas de natação, maratona aquática, triatlo e corridas de rua também têm sido registrados.

A ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem) não possui dados sobre o doping entre amadores no país. O foco das agências antidoping costuma ser apenas o universo profissional.

A entidade, no entanto, tem voltado seu olhar para provas mais populares, que misturam diferentes tipos de esportistas. Com a proliferação das corridas de rua –muitas delas que oferecem premiações–, a ABCD vai aumentar o número de testes para profissionais brasileiros e quenianos que vivem no país. E não apenas os corredores que subirem ao pódio serão alvo dos exames.

Outra preocupação é o crescimento do uso de esteroides anabolizantes nas academias. Eles ajudam a incrementar a musculatura, podem gerar graves danos à saúde e dar vantagem injusta a quem pratica algum esporte, mesmo que de forma amadora.

Será distribuído material informativo, alertando para o risco do consumo de suplementos sem orientação correta. A entidade quer também fazer um programa de testes voluntários entre os frequentadores das academias que são grandes consumidores desses tipos de substâncias. O secretário nacional da ABCD, Marco Aurélio Klein, classifica a questão como um problema de saúde pública.

O uso de doping até parece algo complexo, feito apenas por aqueles que atingem grandes performances em Olimpíadas. Mas pode estar acontecendo ao seu lado.


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