Folha de S. Paulo


Tão perto, tão longe

5 de agosto de 2016. Correria para acertar os últimos detalhes, a praia de Copacabana tomada de gente, a imagem do Cristo nas TVs do mundo todo. Clima de Copa.

Posso errar feio, mas hoje apostaria que a Olimpíada do Rio, em 2016, será um grande sucesso.

Haverá atrasos em obras, rombo no orçamento e algumas falhas na organização. Mas tudo será superado pela festa, por medalhas e recordes, pela horda de torcedores dormindo na praia e bebendo caipirinha. Lembra da Copa?

Mas também aposto que a ressaca será pesada. Falta um ano para os Jogos do Rio, e nada hoje me faz duvidar dessa previsão.

Esqueça as oportunidades já desperdiçadas. A baía de Guanabara continuará a ser um esgoto a céu aberto, e os atletas correrão o risco de sair do mar com uma medalha no peito e uma infecção intestinal. O metrô não vai crescer como deveria. As famílias removidas seguirão com suas casas destruídas para a alegria das construtoras. As favelas continuarão sem estruturas básicas.

Até a ideia de que o esporte pode passar por uma grande transformação com a ajuda do evento é frágil.

5 de agosto de 2015. Notícia mais importante do atletismo brasileiro a um ano da Olimpíada: os dirigentes não conseguiram patrocínio, estão sem dinheiro e não farão um dos mais importantes campeonatos da temporada. Pela primeira vez desde 1985, os atletas não disputarão o Grande Prêmio Brasil, campeonato que faz parte do calendário da federação internacional.

Estamos falando do atletismo, o pai dos esportes olímpicos, que rendeu 14 pódios ao país em Olimpíadas. O que mais distribui medalhas nos Jogos. Isso a um ano do evento em que o COB almeja chegar ao top 10 do quadro de medalhas. No Pan de Toronto, neste ano, o Brasil conquistou apenas um ouro, sua pior campanha desde Cali-1971.

Não falta dinheiro.

Nesse ciclo olímpico (2013-2016), a confederação deve receber mais de R$ 100 milhões só em verba da Lei Piva e patrocínio da Caixa.

Falta gestão. Planejamento. Método. O atletismo é uma das modalidades que mais recebem verba pública no país. Mas, como várias outras, não tem conseguido transformar esse dinheiro em resultados.

E se estamos largando mal nessa corrida, pense em outra que temos pela frente, após agosto de 2016.

Com o fim da festa olímpica, quem vai usufruir das modernas arenas que o torneio vai deixar? Se não conseguimos organizar um campeonato de atletismo, como confiar que teremos como administrar todo esse legado no futuro?

Pior: não sabemos como a conta para manter tudo isso será paga, nem quem assinará o cheque.

Corremos o risco de ter instalações de primeira linha, mas sem conseguir colocar atletas dentro delas para treinar e competir.

Lembra-se da Copa?


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