Folha de S. Paulo


Não mexam no bolso do consumidor

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem

No passado, tudo era estratégico no Brasil: serviços postais, energia, petróleo, telecomunicações, bancos e minério. Hoje não é, mas o consumidor continua pagando a conta de estatais ineficientes, sempre sob ataque de políticos que dominam partes ou a totalidade destes feudos.

Roberto Campos, economista, embaixador, político e escritor foi um dos maiores inimigos da estatização da economia, conduzida por 'nacionalistas' que enxergavam ameaças à soberania nacional em qualquer disputa de mercado sem domínio estatal. Poucos têm a coragem, mesmo atualmente, de cobrar a retomada do processo de privatizações.

Lembrei-me disso porque o governo Temer soltou um balão de ensaio sobre a criação de uma nova alíquota do Imposto de Renda para pessoas com renda mensal superior a R$ 20 mil. Ou seja, profissionais que conseguiram progredir porque estudaram e trabalharam muito teriam de pagar 35% de IR.

Face à reação de empresários e políticos, o presidente recuou e ainda pediu aplausos por não ter feito o que ameaçou. Esqueceu-se de dizer que de 1996 até agora a tabela do IR acumula defasagem superior a 80%. Isso é aumento de tributos sem necessidade de aprovação pelo Congresso Nacional.

Dessa forma, uma montanha de dinheiro deixa de ser utilizada no consumo, reforçando a recessão, o desemprego e a queda na arrecadação de tributos.

Enquanto as autoridades discutem formas de arrecadar mais em meio a uma colossal crise, ou seja, tirar de quem já não tem renda e, muitas vezes, nem emprego formal, há mais de 100 mil cargos comissionados (de não concursados, portanto) no governo federal.

Por que não começar os cortes de despesas por aí?

Além disso, há 151 empresas federais na base de dados do Sistema de Informação das Estatais Federais. Será que são todas indispensáveis ao bom funcionamento do país? A propósito, que bom funcionamento se as pessoas morrem nas filas dos hospitais públicos, têm de pagar planos de saúde e escolas particulares, e se balas perdidas matam até fetos no útero da mãe e a infraestrutura do país é lastimável?

A propósito, as emendas parlamentares devem totalizar mais de R$ 6 bilhões este ano.

Por sorte, o Supremo Tribunal Federal (STF) brecou o reajuste da remuneração dos ministros (de R$ 33 mil para R$ 39 mil), que teria efeito cascata em todo o Judiciário. Detalhe: a inflação anual acumulada é inferior a 3%.

Para tornar mais difícil aceitar este quadro, está em curso uma reforma política, que estipula a criação de um fundo público eleitoral de R$ 3,6 bilhões, para que os políticos nos contem, em suas campanhas, como vão melhorar nossas vidas.

O dinheiro dos brasileiros deve voltar para o consumo, a fim de reativar a economia e reduzir o maldito desemprego.

Chega de bancar tudo isso. Ninguém aguenta mais.


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