Folha de S. Paulo


Brússia x Chíndia

Sob o manto da coincidência de objetivos, opera nos países do conceito original de "Brics" crescente divisão.

O grupo (com a África do Sul) continua a acelerar sua cooperação com iniciativas como o Novo Banco de Desenvolvimento. Seus interesses estarão bem servidos numa "ordem multipolar".

Também é verdade, contudo, que, para além de diferenças em poderio militar, potencialidade econômica ou estilo de governança, o "momento" para os grandes países emergentes é o da "divergência". Uns continuarão avançando. Outros ficarão para trás.

Não há mais a noção de que todos, indistinta e automaticamente, aumentarão seu peso relativo no mundo. Nos Brics, hoje isso significa a compartimentalização "Brússia" x "Chíndia".

Investidores e parceiros comerciais nutrem decepção com Brasil e Rússia. Com o fim do superciclo das commodities, ambos amargam resultados medíocres. Não demonstram nenhuma inflexão em sua política exterior, industrial ou comercial.

Em 2015, atingido por escândalos corporativos e rearranjo fiscal, não entrar em recessão será boa notícia para o Brasil. Na Rússia, sanções econômicas e tensão com vizinhos contrairão 6% do PIB.

Já no campo dos valores ou da "realpolitik", analistas de "soft power" ou geopolitólogos manifestam estranhamento com Brasília e Moscou. O Brasil perdeu força moral e dilapidou sua diplomacia. Desde o final da Guerra Fria, este é o instante em que a Rússia é mais perigosamente imprevisível.

Noutro quadrante, renovam-se apostas em China e Índia como núcleo dinâmico. Ambos, sem descurar de sua visão de mundo, apostam no capitalismo competitivo. Embarcaram fortemente numa agenda reformista. Propugnam mais interdependência à economia global.

Pequim atingiu em 2014 intercâmbio comercial de US$ 600 bilhões com os EUA. Montante 3,5 vezes maior que as trocas comerciais que a China mantém com a "Brússia".

Na Índia, o trabalho de Raghuram Rajan (talvez o melhor "central banker" do mundo) fornece as bases para a agressiva agenda pró-negócios do primeiro-ministro Narendra Modi. Se Déli não abre mão da retórica Sul-Sul, trabalha pragmaticamente no que hoje considera o ponto mais elevado da história nas relações entre EUA e Índia –momento coroado pela visita de Estado (a segunda desde que chegou à Casa Branca) que Obama faz ao país nesta semana.

Se as reformas de Modi avançarem, ganha corpo a ideia de que em algum momento nos próximos dez anos o crescimento anual da Índia superará o da China.

Se for o caso, em 2025 a "Chíndia" terá um PIB conjunto que hoje equivaleria a US$ 23 trilhões –valor superior ao que hoje representa a soma das economias de EUA e Japão.

O desigual desempenho econômico dos Brics em 2015 é boa medida para aferir quais países encontram-se no bom caminho.

Ao passo que a "Chíndia" contribuirá com 35% do crescimento global, a participação da "Brússia" na expansão do PIB mundial será negativa.


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