Folha de S. Paulo


Brasil-mundo: resoluções para 2014

A relação Brasil-mundo começa 2014 de forma paradoxal.

Por um lado, consolida-se a recuperação econômica global. Deveria ser fato a comemorar. Por outro, as características desse melhor cenário internacional não representam campo fértil para as apostas feitas pelo país.

Há um tempo, melhor saúde da OCDE augurava mais exportações de países como o Brasil. E não apenas de commodities. Menores custos relativos ofereciam oportunidade de se fortalecer no suprimento de maior valor agregado.

Hoje não é mais assim. O Brasil optou pelo ensimesmamento industrial e comercial. Taxações sobre renda, produção e livre-comércio financiaram essa reclusão. Foi-se embora a vantagem competitiva nas manufaturas. Nossa política exterior nada negociou no acesso a grandes mercados.

Para o Brasil, reconfortar-se na oferta de liquidez global foi mais importante que trabalhar para expandir o potencial de negócios com países ricos. Ao contrário do que vociferamos, curtimos surfar no tsunami financeiro dos desenvolvidos.

Quando desenvolvidos se contraíram, o Brasil se expandiu –embora não como resultado de mais investimento, comércio e inovação. Resultado: apesar de ser a sétima maior economia, o Brasil ocupa apenas a 24ª posição dentre os maiores exportadores. Com a recuperação dos ricos, o Brasil volta a ficar em baixa.

Assim, 2014 tem de ser ano de reposicionamento. Tempo para "dez resoluções de ano novo":

1) Saber interpretar sinais que o mundo emite –não apostar na "desglobalização"; cadeias transnacionais de produção e pactos plurilaterais de comércio estão reconfigurando o mundo.

2) Reaproximar-se dos EUA –precisamos de parcerias de investimento e tecnologia e acesso ao principal importador do mundo.

3) Diversificar o comércio exterior –país algum se desenvolveu exportando apenas matérias-primas.

4) Fortalecer a Apex –nossa agência de exportações deveria inaugurar unidades permanentes em cidades globais como Londres ou Xangai.

5) Distanciar-se dos bolivarianos –o esquerdismo latino-americano não tem futuro.

6) Acelerar a institucionalização dos Brics –o Brasil ganha com a formalização da sigla. O banco de desenvolvimento será marco importante.

7) Lançar um "Tecnologia sem Fronteiras" –postos diplomáticos brasileiros têm de trabalhar por mais parcerias para nossas empresas de base tecnológica.

8) Prestar atenção no Japão –o país do sol nascente está reemergindo. Já foi o terceiro investidor direto no Brasil. O potencial de cooperação é imenso.

9) Multilateralismo não é religião –OMC e ONU merecem atenção, mas jamais devem representar prioridade de nossa inserção global.

10) Não perder o grau de investimento –não há nada a ganhar com um rebaixamento. Queiramos ou não, agências de risco são bússola para investimentos. E precisamos das reformas para escalar rankings de competitividade global.


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