Folha de S. Paulo


O tão almejado consumidor chinês

O comércio pela internet é uma febre na China. O famoso Taobao, que agora se expande para outros países como o Brasil, e o seu concorrente Jing Dong absorveram a mente e o bolso dos consumidores. Uma das razões é a eficiência da logística.

O consumidor compra no começo da noite, o produto está em seu escritório ou em casa na manhã seguinte. Se é vestuário, ele prova na hora da entrega. Não estando satisfeito, devolve, também na hora, ao correio expresso. Há empresas que instalaram vestiários para permitir aos funcionários gozar o prazer das compras sem sair do escritório.

Associado ao Taobao, um sistema chamado Alipay resolve as tarefas do dia a dia. É possível fazer investimentos, financiar o consumo, transferir dinheiro para contas bancárias pessoais, apostar na loteria, contratar seguros, enfim, responder a necessidades que, frequentemente no resto do mundo, são atendidas por instituições bancárias.

Há dias, vi um cliente num restaurante perceber que havia esquecido a carteira na hora da conta. A solução foi simples: usar o celular e transferir dinheiro via Alipay para o garçom, que, vendo o registro do crédito, fez o pagamento do jantar. Finalmente, a compra pela internet permite às plataformas de venda entender o consumidor pessoalmente. E oferecer o que ele gosta na janela de sua conta no computador: a loja personalizada.

O cidadão médio chinês muda os seus hábitos de consumo muito rapidamente. E só o comércio eletrônico ou empresas afinadas com as aceleradas alterações do gosto local podem responder à realidade cambiante.

Resultado: grandes lojas de departamento estrangeiras que se instalaram nas metrópoles, como a Galeria Lafayette francesa, o Walmart, o Takashimaya japonês, estão registrando perdas. Bancos internacionais veem seu espaço potencial reduzido e, indiretamente, reclamam. Há dias, o presidente de um deles declarou que a China não deveria ser tão dependente do comércio on-line.

O movimento de marcas estrangeiras em busca de penetrar no mercado prossegue. Quando as marcas não vêm por si sós, investindo ou procurando distribuidores, empresários chineses vão à cata de comprá-las ou adquirir sua representação. Mas não basta chegar. É preciso ter tempo de amadurecimento, entender as tendências e, sobretudo, ser rápido nas transformações. Muitas empresas estrangeiras tomam nas sedes decisões sobre o que oferecer. O processo é lento, e quem se atrasa perde espaço.

O consumidor chinês ainda não se deixa atrair pelos produtos só em razão do binômio qualidade-preço. Tende a comprar marcas que conhece ou itens extremamente baratos. Em outras palavras, ou a loja da Prada ou a 25 de Março. Há exceções, é claro. E, num país com até 600 milhões de consumidores ativos, exceções não são desprezíveis.

Os chineses ainda são focados em possuir coisas. Começam a incorporar a ideia de gastar com prazeres. Estão longe de sociedades desenvolvidas, onde pessoas buscam, sobretudo, tempo livre. Talvez nunca cheguem lá. Gastar e poupar, ao mesmo tempo, não é propósito fácil. E não há chinês que o descarte. Um verdadeiro milagre.


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