Folha de S. Paulo


Boas notícias para 2014?

2014, sabemos, será um ano difícil para os emergentes. Em função das dificuldades, o quadro de cooperação entre eles, que se esboçou a partir da crise de 2008, dará lugar a outro, de competição.

Quem conseguir projetar uma imagem mais sólida de seus fundamentos econômicos estará menos sujeito aos humores do mercado.

Já vimos isso antes. Nas crises do final dos anos 90, os países aproximavam-se das instituições financeiras para contrastar suas políticas com as dos demais e apresentar-se como em melhores condições.

Os argentinos, que naquela época tinham uma economia que parecia enxuta, buscavam escapar do contágio fazendo críticas ao Brasil.

Os mercados e as notícias hoje estão fortemente focados no curto prazo. Se olharmos a realidade de uma perspectiva mais longa, a retomada do crescimento americano e a recuperação, ainda que tímida, da Europa são as boas notícias do ano. Havendo mudanças no quadro europeu ou americano, serão para pior.

Quem parece apresentar maior possibilidade de surpreender positivamente é a Ásia.

Os dois gigantes asiáticos, China e Japão, estão anunciando reformas que podem mudar suas perspectivas econômicas.

Se os chineses mostrarem firmeza na ação, vão ajudar a criar um ambiente de otimismo que poderá contribuir para aliviar as tensões recentes sobre a trajetória dos emergentes.
Se, no Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe entregar o que promete, haverá ainda mais otimismo.

O problema é que os chineses, rápidos nos negócios e nas obras, costumam ser lentos e graduais nas grandes transformações.

E o discurso de Abe está tão adiante do que o Japão mostrou poder fazer na última década, que há justificadas dúvidas quanto à sua exequibilidade.

Abe fala de mudanças estruturais em energia, agricultura, mercado de trabalho, previdência e saúde. É difícil imaginar que um país possa atacar tantos fronts sensíveis a um só tempo.
O Japão, além disso, tem as suas peculiaridades. Diversos segmentos da economia operam hoje mais fora do que dentro do país.

A indústria automobilística, por exemplo, um dos tradicionais motores do crescimento, investe maciçamente no exterior porque a nova geração de japoneses tem pouco interesse em adquirir veículos. Prefere andar a pé, de bicicleta ou utilizar o transporte coletivo.

Mas, se vierem as reformas, o Japão engata numa fase de crescimento e isso terá óbvios reflexos positivos na economia internacional.

Em suma, o cenário a se consolidar em 2014 ainda não está todo dado. Haverá mais a seguir do que a redução do estímulo monetário do Fed e a trajetória macro das economias que estão hoje vendo os capitais fugirem de suas realidades.

É claro que, se falharmos nos temas macro, não há fato internacional que ajude. Mas essa, pelo menos no Brasil, não parece ser uma hipótese sobre a mesa.


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