Folha de S. Paulo


Os males da eleitoraína

É sem dúvida respeitável o ponto de vista dos que defendem a permanência de políticas proibicionistas em relação à maconha. E é salutar que o debate venha a público. Mesmo porque a hipocrisia tem sido a tônica entre partidos e políticos ditos "progressistas", que se fingem de santos com o único propósito de angariar –ou não perder– votos do eleitorado conservador, nem sempre, aliás, esclarecido sobre o assunto.

Considero, nesse sentido, admirável que Fernando Henrique Cardoso tenha se disposto a encampar a tese da legalização da maconha, ao lado de outras figuras de projeção internacional, como seu colega norte-americano Bill Clinton. O ex-presidente, tudo bem, não precisa de votos, mas poderia perfeitamente manter-se calado ou se curvar ao cinismo reinante, como muitos que conhecemos.

Na disputa eleitoral, apenas candidatos minoritários, como Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL) e Rui Costa Pimenta (PCO), defendem com clareza o fim do proibicionismo. E, ao que parece, estão despertando reações.

A mais cômica delas veio sob a forma de uma campanha do movimento "Brasil Sem Drogas", lançada no Ceará. Os anúncios, publicados em jornais, lançam perguntas do tipo: "Você teria coragem de ser operado por um médico que fumou um baseado?". E garantem: "Se a maconha for legalizada, isso será normal".

O primarismo das peças já as transformou em "meme" nas redes sociais. Afinal, qualquer médico, se quisesse, poderia, hoje, antes de trabalhar, tomar umas e outras ou mesmo fumar um cigarro de maconha comprado na boca esquina. A questão, obviamente não é essa. Já escrevi aqui sobre o proibicionismo (Quando a maconha era o álcool) e não vou repisar os argumentos.

O que gostaria de dizer, na realidade, é que a infeliz campanha está em perfeita sintonia com o Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) que impera nesse período de eleições. Enunciados igualmente primitivos são repetidos exaustivamente, à esquerda e à direita, pelas milícias militantes. Dizer, por exemplo, que a presidente Dilma Rousseff, se reeleita, vai promover estatizações e transformar o Brasil numa ditadura bolivariana, é um deles. Assegurar que a candidata Marina Silva será um Collor teleguiado pelo Banco Itaú que tomará decisões políticas com base em leituras aleatórias de passagens da Bíblia é outra. E por aí vai.

Que droga será que andam tomando? Eleitoraína? Pelo visto aumenta a agressividade e causa sérios danos à inteligência e à honestidade intelectual.


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