Folha de S. Paulo


Não tem tu, vai tucano mesmo

"Tucanistão" é um achado –um momento José Simão de Vladimir Safatle, que escreveu uma coluna muito comentada sobre a longevidade da dinastia tucana em São Paulo. Não é de hoje que essa questão intriga –e irrita– petistas e outros setores da esquerda.

São Paulo tão cheia de problemas... e por que não muda? Eis a pergunta, o mistério, o enigma. Com frequência a explicação, implícita ou explícita, é conhecida: os culpados são os paulistas, anestesiados como se vivessem sob uma ditadura ou reacionários abduzidos pela ideologia da "classe média fascista".

Colocar a culpa no "povo" –ignorante, despreparado, manipulável– também é um discurso recorrente da classe dominante. Na vertente mais autoritária e racista, outros atributos são acrescentados –"mestiços", "preguiçosos" etc.

Certamente as eleições de São Paulo, terra do operariado do ABC –o berço do PT– não são decididas pelo voto da "elite branca". O Estado concentra grande massa de assalariados, trabalhadores rurais, pequenos comerciantes, estudantes, profissionais liberais, excluídos etc.

Como o Tucanistão não vive sob uma monarquia, sabe-se que o voto desses setores é decisivo para definir quem sentará no trono.

A tese do conservadorismo paulista, embora tenha fundamento, não basta para explicar a mesmice. Tampouco a "mídia" –o velho mordomo. Afinal, a capital do reino já elegeu três prefeitos petistas –um deles em pleno exercício.

Ao que parece, o tucanato –outra criação da terra– conseguiu se estabelecer, pelo menos no plano estadual, como uma espécie de "seguro" contra pragas piores, como o famigerado populismo de direita (Maluf, Quércia, Fleury), que teve longa e tenebrosa soberania.

Olhemos, por exemplo, para o vizinho mais rico do Tucanistão, a Globolândia. O cenário é lastimável. Encerrado o ciclo cabralino, oscila-se entre Garotinho, Crivella e Pezão –e nem o Estado, nem sua progressista capital, jamais elegeram, desde de Brizola, um governante de esquerda.

Ponha-se no lugar de um fictício "eleitor médio" do Tucanistão. Suponha que ele até gostasse de ter uma opção diferente para o governo do Estado. Alguém que despertasse seu entusiasmo ou pelo menos a confiança de que as coisas iriam melhorar.

Quem seria? Quem é, afinal, o famoso líder "progressista", o bravo homem público que estaria sendo injustiçado pelos paulistas, com seu conhecido histórico de defesa da população e oposição à dinastia tucana? Gilberto Maringoni? Alexandre Padilha? Paulo Skaf? Convenhamos, esse cara não existe. Ou melhor, existiria, se Lula estivesse disposto a descascar o abacaxi.

Não espanta, portanto, que prevaleça o lema da gente pragmática do Tucanistão: "Se não tem tu, vai tucano mesmo".


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