Folha de S. Paulo


A empáfia de Felipão e Parreira

Impressionantes a teimosia e a capacidade de falar bobagem com convicção da dupla Felipão e Parreira. Não que seja novidade. Parreira, lembremos, só levou Romário para a seleção, em 1994, depois de uma gigantesca pressão da torcida e da imprensa. Existe atestado mais cabal de falta de visão e desamor pelo futebol?

E o que fez depois? Nada. Treinou um leque de seleçõezinhas obscuras e, em 2006, foi responsável por um dos piores trabalhos de que se tem notícia na história da seleção brasileira. Insistiu com um time de gatos gordos e tivemos um final melancólico.

Felipão, admita-se, acertou ao apostar em Ronaldo em 2002. Tínhamos uma geração privilegiada e ele soube aproveitar. Depois foi bem em Portugal, surfando na melhor safra de jogadores do país em muitos anos.

Os acertos, no entanto, parecem ter-lhe enchido de uma imodéstia que chega às raias do delírio e da neurastenia. Suas entrevistas –as de ambos, aliás– nessa Copa são lamentáveis, cheias de trejeitinhos mau-humorados e empáfia. Padrão Dunga.

O caso Paulinho, por exemplo. Qualquer garoto peladeiro sabe que o nosso volante –que fez uma Copa das Confederações impecável– não está jogando nada. Inseguro, preso, sem iniciativa. Mas o que faz o treinador da seleção? Dá uma entrevista dizendo que tem confiança "cega" no jogador. Desculpe, mas treinador não tem que ter confiança cega, tem que estar de olhos bem abertos para ver o que está acontecendo.

E lá vai nosso Felipão enfrentar Camarões com Paulinho mais uma vez em campo. Como o garoto peladeiro e todos sabíamos, o jogador, que está na reserva do Tottenham (quando é relacionado), faz um péssimo primeiro tempo. Não joga bulhufas, perde um gol feito e falha na cobertura da avenida Daniel Alves –outro que está devendo– no gol da equipe africana.

Felipão então faz o que já deveria ter feito. Substitui Paulinho no segundo tempo por Fernandinho, que não mostrou nada de excepcional, apenas fez o que se espera de um jogador de seleção brasileira –jogar bola. E agora? Já que falou que tinha "confiança cega" em Paulinho, Felipão fica na banana e começa a dar declarações dúbias. Enganou-se? Não deveria ter tanta confiança assim? Vai mudar? Não vai? Bem, "a natureza não dá saltos", filosofa ele... Meldeus.

Enquanto isso, Parreira tece considerações sobre a alta qualidade técnica da equipe de Camarões. Ora, bolas. É coordenador técnico ou humorista? Bem que ele lembra o Golias... Ô Cride! Fala pra mãe que Camarões bate um bolão!

Alguém já disse que o Brasil poderia ter vencido pelo menos mais duas Copas se contasse com treinadores mais capacitados. Concordo. Pagar mico com seleção brasileira é uma arte. Será coincidência o fato de que sempre temos craques consagrados na Europa, que já levantaram todos os títulos possíveis, mas não temos nenhum treinador realmente bem-sucedido internacionalmente? Felipão e Parreira fariam bem em calçar as sandalinhas da humildade e deixar de se comportarem como as sumidades que acham que são, mas não são.


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