Folha de S. Paulo


A Copa na Big Apple

Já deu um pouco de tudo sobre a Copa no "New York Times". O jornal, no fim de semana, dedicou uma edicão quase inteira de sua revista ao evento, com três capas diferentes –uma com Cristiano Ronaldo, outra com Iniesta e a melhor, claro, com Neymar. Messi, queridos hermanos, ficou nas internas.

O craque revelado pelo Santos também apareceu numa reportagem sobre as relações do mundo fashion com o futebol. "Quem será o próximo David Beckham?", perguntava o título. E o texto respondia: "Se existe um cara que já tem um aval, ele parece ser a maior sensação no Brasil: Neymar da Silva Santos Júnior (chame apenas de Neymar). O jovem, de 22 anos de idade, está jogando a primeira Copa do Mundo, e sua popularidade global fez dele um candidato óbvio para o mundo da moda".

Neymar –que foi fotografado por Mario Testino, ao lado de Gisele Bundchen, para a "Vogue Brasil"– também apareceu na capa da revista do "Wall Street Journal", vestindo um moletom Calvin Klein. A estratégia de seus assessores de imagem parece estar funcionando. Esperemos que o moleque limpe a maquiagem e tire o saltinho antes de entrar em campo.

O "New York Times" também publicou um texto, acompanhado por um vídeo, sobre o futevôlei –essa deliciosa jabuticaba criada nas praias cariocas, que teve em Romário seu maior expoente.

Nesta segunda –estava demorando– veio um artigo mais "sério", sobre o clima social e político de nossa terra em transe. Dizia o título: "Apreensão e apatia competem com animação no Brasil". O jornal lembrou que a "lista de feitos" do país desde o fim da ditadura é admirável e citou alguns deles, como as eleições democráticas de presidentes antes perseguidos pelos militares; os programas de combate à pobreza, que promoveram milhões à classe média; e o êxito da agricultura, que ajuda a alimentar o mundo.

"Mas em vez de se unirem para exaltar tais triunfos no palco mundial, como anfitriões da Copa, os brasileiros estão divididos por um humor sombrio e ressentimentos"... A reportagem mencionou a estagnação econômica, os protestos e a violência policial. E ouviu algumas pessoas, como o antropólogo Antônio Risério, que disse nunca ter visto clima tão estranho.

Creio que ainda está em fase de elaboração um diagnóstico mais completo sobre o mal-estar que há um ano, pelo menos, acomete a sociedade brasileira. Conhecemos os fatores mais óbvios –como eleições à vista, baixo crescimento, violência, crise das cidades, cansaço com a demora em superar o subdesenvolvimento, corrupção desenfreada, governos incompetentes em todos os níveis (e de todos os partidos), incitação política à divisão social etc.

A causa profunda do enjoo, porém, e o que ele pode representar em termos de mudança em nossa sociabilidade ainda estamos intuindo.

Dores do amadurecimento? O Brasil da cordialidade cansou do velho jeitinho de seu coração vagabundo, cruel e conciliatório?

Bem, enquanto não chegamos a uma conclusão sobre o sentido dessa nova "melancolia que não sai de mim, não sai", minha dúvida aqui em Nova York é mais prosaica. Saber como vou ver os jogos com meus amigos. Devo assinar o canal Globo Internacional? Acho que sim, porque vai ser muito chato acompanhar as partidas da seleção narradas em inglês ou espanhol, com o cara falando o nome dos jogadores com sotaque...

Por outro lado, tem o Galvão... Dá para encarar, Arnaldo? Dureza. Bem, posso diminuir o volume e pegar o som de uma rádio brasuca pela internet. Mas e o delay?

Outra ideia é ir para um dos muitos bares que vão passar os jogos, com bandeirinhas, cerveja belga, hambúrguer e apito. Será?

Bem, é certo que #vaitercopa. Mas que canseira está dando isso, hein?


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