Folha de S. Paulo


O frouxo Obama contra o super Putin

Os neoconservadores do Partido Republicano aproveitam a crise da Ucrânia e o avanço russo sobre a Crimeia para relançar o bordão de que Barack Obama é frouxo e não defende como deveria os interesses dos Estados Unidos no mundo.

Os reiterados ataques à suposta "fraqueza" do presidente servem para desgastar sua imagem e, por tabela, a de sua ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, virtual candidata dos democratas à Casa Branca, em 2016. Mas os neocons não parecem ter na mira apenas o público interno. Suas censuras à liderança de Obama, que representaria um risco para a defesa do ocidente, também ecoam no plano internacional.

A patacoada mal disfarça a subjacente "torcida" para que a crise se amplie –o que poderia, eventualmente, trazer à lembrança os arautos do novo século americano. Num cenário mais explosivo, eles estariam prontos para dizer que não foi por falta de aviso e, com sorte, poderiam recuperar terreno e reassumir o leme –ou os botões da maior máquina de guerra do planeta.

Na semana passada, o ex-prefeito republicano de Nova York, Rudolph Giuliani, que já foi considerado um político capaz de atrair seu partido para o centro, fez um comentário com conotações freudianas na rede de TV Fox. Falava sobre Putin –e o comparava a Obama: "Ele toma uma decisão e a executa de forma rápida. Então todo mundo reage. Isso é o que você pode chamar de um líder. O presidente Obama precisa pensar nisso".

Num artigo para o "Daily Beast", o jornalista e escritor Michael Tomasky –um progressista ao estilo americano– não deixou passar em branco o encanto de Giuliani e seus correligionários com o modelo de liderança "homem forte". "Os neocons, em algum nível emocional, preferem Putin a Obama. Ele é resistente. Ele vai sem camisa", ironizou Tomasky.

O perfil autocrático de Putin e seus devaneios imperiais vêm a calhar –sim, como farsa– num país que durante anos se mediu com a Rússia comunista, um antípoda definido, ameaçador e estimulante. A direita republicana não desconhece, é claro, a loucura que seria uma ação militar contra os russos –mas joga combustível retórico na fogueira.

É verdade que Obama cometeu equívocos. Falou grosso com a Síria e a Rússia sobre "linhas vermelhas" que não poderiam ser ultrapassadas –e ficou em posição desconfortável quando foi desrespeitado. Ele faz, contudo, a coisa certa ao insistir numa política externa que privilegia a via diplomática.

Depois de anos de Afeganistão e Iraque é evidente a fadiga da opinião pública americana –e internacional– com as intermináveis guerras "cirúrgicas" contra inimigos longínquos. Elas consomem anos, vidas e recursos que poderiam ser usados em outras áreas .

No mais, no caso da Ucrânia, embora os EUA tenham inegáveis interesses, é a Europa, afinal, que por todos os motivos está linha frente –e com sua habitual incapacidade de se apresentar como um ator articulado e decisivo na administração de crises.


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