O ciclo vicioso da crise política e da crise econômica parece não ter fim e resulta nesse sentimento difuso de desesperança e de apreensão.
As dificuldades recentes, porém, não devem levar a ignorar os avanços dos últimos anos. Nenhum dos problemas econômicos é recente. Todos já estavam presentes, incubados e latentes, antes da última eleição. Preferiu-se ignorá-los.
Há duas décadas se sabia que os gastos com previdência do setor privado e dos servidores se tornariam insustentáveis. Alguns Estados já estavam a caminho da insolvência no começo desta década.
Desde o governo anterior se alertava que as políticas de proteção setorial adotadas em vários setores, como óleo e gás, construção civil, indústria automobilística e naval, além da disseminação do crédito subsidiado, eram tecnicamente mal desenhadas e deveriam fracassar.
Houve um imenso avanço na aceitação dos problemas nos últimos dois anos, o que resultou nesse começo de debate sobre as possíveis reformas para que retomemos a normalidade.
Ocorreram, também, avanços importantes em diversas áreas, como a revisão de algumas das políticas fracassadas dos últimos anos.
Alguns analistas e, aparentemente, o próprio governo, porém, subestimaram a extensão do problema. Imaginaram que a crise seria apenas cíclica e que, com rumo novo, a economia já estaria crescendo no fim do ano passado. Infelizmente, estavam errados.
De qualquer forma, os avanços reduziram o risco-país e colaboraram para a rápida queda dos juros de mercado, que tem permitido ao Banco Central reduzir a Selic em meio a uma rápida queda da inflação.
Para além da maior severidade dos problemas do que o esperado por muitos, há também a surpreendente resistência das corporações com a necessária revisão dos benefícios concedidos na última década.
Diversas empresas dependem de subsídios públicos para garantir seus resultados. Alguns grupos de servidores públicos resistem à revisão de regras muito mais benéficas do que é acessível ao resto do setor privado que, afinal, é quem paga a conta.
A crise que vivemos decorre de um país que prometeu mais do que pode oferecer. Além do mais, na última década, a expansão do poder público e da sua capacidade em conceder benefícios discricionariamente resultou em políticas fracassadas e em desvios inaceitáveis.
Continuar a agenda de reformas passa pela negociação dos benefícios que serão revistos e por novas regras de governança para a relação entre o setor público e o setor privado. Não se trata apenas de uma agenda técnica ou de problema de gestão. Requer negociação e arbitragem de conflitos. Trata-se da Política que nos faz falta.