Folha de S. Paulo


EUA lideraram regulamentação de lobby e oferecem boas experiências

Carolyn Kaster/AP
U.S. President Barack Obama, center, does the ASEAN style handshake before the start of the ASEAN-U.S. Summit Meeting at National Convention Center in Vientiane, Laos, Thursday, Sept. 8, 2016. From left: Thailand's Prime Minister Prayuth Chan-ocha, Vietnam's Prime Minister Nguyen Xuan Phuc, U.S. President Barack Obama, Laos' Prime Minister Thongloun Sisoulith, and Philippines Foreign Affairs Secretary Perfecto Yasay. (AP Photo/Carolyn Kaster) ORG XMIT: LAOK105
O presidente dos EUA, Barack Obama (centro) cumprimenta primeiros-ministros asiáticos

No Brasil, a palavra lobby assumiu uma conotação bastante negativa, principalmente quando se trata da defesa de interesses empresariais. Mas a verdade é que, numa sociedade democrática, qualquer indivíduo ou organização tem o direito de "fazer lobby", ou seja, de expressar e defender os seus direitos legítimos, incluindo o ato de levar argumentos e fazer reivindicações ao governo.

O lobby é uma atividade antiga, necessária e inevitável. Sua origem vem da expansão da Carta Magna, de 1628, com a "petição de direitos" que impôs não apenas limites claros ao poder do rei Carlos 1º, como conferiu ao povo inglês o direito de reivindicar abertamente os seus direitos por meio do Parlamento.

Mas foram os EUA que tomaram a liderança na busca de uma regulamentação clara e transparente para o lobby, apesar dos incríveis malabarismos vistos no seriado americano "House of Cards", que parecem se confundir com a realidade.

Não é por acaso que a primeira emenda da Constituição dos EUA não só garante o direito "de fazer pedidos ao governo para que sejam feitas reparações de queixas", mas vai além, proibindo o Congresso de restringir essa atividade.

Desde então, os EUA vêm discutindo como controlar grupos de interesse, dar transparência aos pleitos feitos ao governo e regular a ação dos profissionais que o fazem. Basta dizer que, nos últimos cem anos, quatro leis de regulamentação do lobby se sucederam nos EUA, sendo aperfeiçoadas e adaptadas pela experiência e jurisprudência. Por isso, em tempos de Lava Jato e de busca da regulamentação da profissão, algumas lições deveriam ser aprendidas com a experiência dos EUA.

A primeira é necessidade do trabalho na base, trazendo respostas de mérito técnico para quem formula ou executa políticas públicas, baseadas em estratégias consistentes e resultados efetivos para o eleitor, agregando forças com outros atores por meio de coalizões e aproveitando as oportunidades de exposição na mídia.

Em vez de lobby, que tem uma conotação de relacionamento individual sem uma proposta estruturada, os americanos adotaram o termo "advocacy" para sintetizar o trabalho amplo de relações públicas e governamentais. "Advocacy" poderia ser traduzida como "advogando por uma causa" que interessa a certos eleitorados, muito além da conotação jurídica do termo. O lobby é só uma das ferramentas do "advocacy".

A segunda lição é que nos EUA o governante espera que as partes envolvidas —contra e a favor— se apresentem e declarem a sua posição.

Ou seja, todos, até mesmo os estrangeiros, são convidados a participar ativamente do processo de formulação de políticas públicas, declarando os seus interesses, trazendo argumentos técnicos e, se necessário, formando coalizões mais amplas. É interessante que o governo todo ano publica um "plano regulatório" para indicar ao público em geral os assuntos que estarão em pauta. Trata-se de um pré-anúncio para que a sociedade se prepare e traga propostas.

O dever do governante é ouvir todas as vozes, debater ideias e propostas e, só depois, encontrar o rumo equilibrado para o país. Graças ao voto distrital, cada membro do Congresso americano está profundamente ligado aos interesses da sua base eleitoral. Quando esse dialogo funciona, torna-se desnecessário protestar nas ruas, interromper o trânsito, destruir o bem público e, menos ainda, seguir o caminho sujo do compadrio e do tráfico de influência. O "advocacy" honesto e transparente substitui pressões e posições ilegais, reforçando a democracia.

Cabe, portanto, ao governante e à sociedade entenderem que a defesa legítima de interesses é um elemento fundamental do exercício da democracia e da boa governança. Instituições sólidas são aquelas que sabem ouvir todas as partes, tomam decisões políticas e regulatórias com base no interesse público, e não no individual, e prestam conta do que foi feito.

Colaborou JOEL VELASCO, vice-presidente sênior da firma de estratégia em relações governamentais Albright Stonebridge em Washington


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