Folha de S. Paulo


Tailândia, do Sião à globalização

Até a Segunda Guerra Mundial, um conjunto de reinados situados no coração do Sudeste Asiático, conhecidos como Sião, lutou bravamente para manter a sua homogeneidade étnica, linguística e religiosa. Esses reinados se transformaram na Tailândia, uma monarquia constitucional budista hoje aberta ao comércio, ao turismo e aos investimentos, com um modelo exportador de grande sucesso.

Com 68 milhões de habitantes, a Tailândia é o único país da região que não foi colonizado, apesar das pressões britânica (da Birmânia à Índia) e francesa —na antiga Indochina, hoje Vietnã, Laos e Camboja. O rei da Tailândia, reverenciado e adorado pelo povo tailandês, está no poder há 70 anos e é hoje o mais longevo do planeta.

A última década foi marcada pelo forte ingresso de investimentos que permitiram inserir a Tailândia nas cadeias globais de suprimento, com um modelo voltado para a exportação de produtos de maior valor adicionado. A produção automotiva, por exemplo, é a maior do Sudeste Asiático e posiciona-se entre as dez maiores do mundo.

Assim como o Brasil, a Tailândia tenta escapar da chamada "armadilha da renda média", simbolizada pelo desafio de vencer a desigualdade social, a baixa produtividade e a corrupção. O país também carece de maior infraestrutura e educação, apesar dos visíveis avanços nos últimos anos.

No agronegócio, a Tailândia posiciona-se entre os três maiores exportadores mundiais de arroz, borracha, açúcar e carne de frango. Mas metade da população ainda vive na zona rural, onde a renda é bem inferior à das áreas urbanas.

Um dos setores que mais se desenvolveram é o turismo, no qual o país ocupa a 10ª posição mundial. Em 2015 a Tailândia recebeu 27 milhões de turistas, ante apenas 6,5 milhões do Brasil. Extremamente gentis e receptivos, os tailandeses contam hoje com uma impressionante estrutura para receber turistas, que vem se ampliando de forma acelerada.

Assim como ocorre em quase toda a Ásia, as relações com o Brasil ainda estão muito aquém do desejável. O comércio bilateral é pequeno (da ordem de US$ 3,5 bilhões anuais), a troca de turistas é tímida, e os investimentos produtivos, quase inexistentes.

Em dezembro, a BRF anunciou entendimentos para a aquisição da Golden Foods Siam (GFS), terceira maior empresa exportadora de carne de frangos da Tailândia, focada na exportação de produtos cozidos para a Europa, o Japão e o Sudeste Asiático. O investimento de US$ 360 milhões da BRF na Tailândia é o maior já realizado por uma empresa brasileira naquele país.

As oportunidades de comércio e investimentos na Tailândia e região são extraordinárias. Estou convencido de que os países que mais deram certo no mundo são aqueles que conseguiram olhar para fora e se encaixar de forma efetiva na globalização, ainda que à sua maneira.

O mundo desenvolvido globalizou suas grandes empresas há mais de um século. Na Ásia, alguns países souberam atrair capitais e empresas multinacionais para investir em seus imensos mercados domésticos e aprender. Outros, como a Tailândia, conseguiram desenvolver indústrias competitivas que hoje atuam integradas em cadeias globais de valor, além de atrair grande volume de capitais e turismo.

Só não deram certo no mundo os países que permaneceram isolados, fechados, focados apenas no seu mercado doméstico, no seu custo-país, no seu próprio umbigo.


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