Folha de S. Paulo


Bondes de traficantes mostram que Rio tem grande passado pela frente

Raquel Cunha/Folhapress
Velório de Marcelo Rezende na Assembléia Legislativa de São Paulo
Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO - Millôr Fernandes dizia que o Brasil tem um gigantesco passado pela frente. Em poucos lugares do país a frase se aplica tão bem quanto no Rio, onde o desgoverno do PMDB faz o Estado retroceder décadas.

O noticiário do último fim de semana, por exemplo, mostrou que voltamos definitivamente ao tempo dos "bondes". Não o transporte coletivo, mas os bandos de traficantes que partem de uma favela a outra para tomar território ou redistribuir seus homens estrategicamente.

Na madrugada de sábado (16), cerca de 15 bandidos, armados inclusive com fuzis, cruzaram a pé uma das principais ruas de Copacabana, rumo a uma favela local —foram flagrados pelas câmeras dos edifícios. No dia seguinte, um bonde de traficantes saídos do morro de São Carlos invadiu a Rocinha para tentar tomá-la. Há pouco mais de um mês, cena idêntica aconteceu no complexo da Pedreira —naquela ocasião, com apoio de policiais corruptos.

O cenário do crime no Rio não tem igual no país. São ao menos três grandes facções de traficantes disputando o controle de centenas de favelas, além das milícias. Um documento da Secretaria de Segurança revelado pelo jornal "Extra" contou 843 áreas dominadas pelos criminosos no Estado, a maioria na capital. A disputa territorial entre as facções (e destas com o Estado) faz com que elas busquem armamento cada vez mais pesado.

Olhar para o passado permite entender onde isso pode parar: na virada da década de 1990 para a de 2000, bondes de traficantes com dezenas de veículos cruzavam a cidade —em geral nas madrugadas, mas nem sempre— sem maior resistência, para guerrear contra inimigos. Houve registro de caminhonetes que circulavam com fuzis antiaéreos na carroceria, sobre tripés. Mantido o ritmo do retrocesso atual, não tardaremos a chegar na Idade Média.


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