Folha de S. Paulo


Política de confrontos da polícia do Rio é assassina e ineficaz

Silvia Izquierdo-30.jun.2017/AP Photo
Children stand next to spent bullet casings after a police operation at the Mangueira favela in Rio de Janeiro, Brazil, Friday, June 30, 2017. A 76-year-old woman and her daughter, who tried to come to her aid, have been killed in a shootout between police and drug traffickers in the Rio de Janeiro slum. (AP Photo/Silvia Izquierdo) ORG XMIT: XSI108
Crianças em frente a cartuchos de bala após operação policial no morro da Mangueira, no Rio

RIO DE JANEIRO - "Perdemos mais uma aluna hoje, no Lins. Uma menina de 11 anos. Mais uma vez, tiroteio entre policiais e criminosos. Essas operações policiais não valem a pena. Por favor, entendam isso: essas operações policiais não valem a pena. Tem de ter outro jeito."

Publicado em rede social, o desabafo de Cesar Benjamin, secretário municipal de Educação do Rio, é representativo do desânimo que abate os cariocas a cada nova morte como a de Vanessa dos Santos. Ela levou um tiro na cabeça, na porta de casa, numa favela da zona norte, na terça (4).

Poucos dias antes dela, a vítima foi uma criança que ainda estava na barriga de sua mãe. Baleada em condições similares, corre risco de vida e deve ficar paraplégica.

É difícil não sentir impotência diante desse tipo de tragédia anunciada. Já se sabia que a falência do Estado, quebrado pelo PMDB, teria efeitos particularmente perversos na segurança pública. O vácuo deixado nos morros pelo enfraquecimento das Unidades de Polícia Pacificadoras abriu caminho para novas disputas de traficantes por território.

A polícia, por sua vez, retomou a política de confrontos, cuja ineficácia já ficou comprovada. O único resultado prático são mortes de todos os lados: moradores, policiais e bandidos.

Estou sempre voltando a "Notícias de Uma Guerra Particular", documentário rodado há 20 anos e ainda a melhor análise sobre a violência carioca.

"Você acha que a ação de vocês soluciona alguma coisa?", pergunta o diretor João Moreira Salles ao então capitão Rodrigo Pimentel, do Bope. "De forma alguma. São 500 favelas no Rio e somente um batalhão de operações especiais. A ação da polícia não pode vir a trazer um bom resultado", responde o policial.

"É uma guerra sem fim. Quase toda noite o Bope matava um traficante, apreendia um fuzil. Resolvia alguma coisa? Não resolvia nada."


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