Folha de S. Paulo


Socorro federal não resolverá violência no Rio

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 02/05/2017; Caminhao pega fogo proximo a comunidade da cidade alta na AV. Brasil apos policia entrar em confronto com faccoes no local. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Caminhão incendiado por mascarados pega fogo em local próximo à comunidade da Cidade Alta (RJ)

RIO DE JANEIRO - As cenas que o Rio exibiu para o país nesta terça (2) —ônibus queimados, caminhões saqueados, traficantes em guerra entre si e contra a polícia— são apenas o sintoma atual da metástase, causada pela derrocada do projeto de segurança pública do Estado.

Como num câncer, os primeiros indícios foram pouco notados: conflitos em favelas menores, aumento da criminalidade em áreas mais pobres. Depois vieram os sinais mais chamativos, como a guerra no Alemão, mas cuja dimensão não foi percebida por boa parte dos cariocas.

O que se viu na Cidade Alta na terça já foi expressivo e assustador a ponto de levar o Planalto a enviar ajuda. "O governo do Rio sozinho, ainda mais com a crise financeira, não consegue fazer a segurança toda do Estado", disse o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), numa trágica admissão de incapacidade.

O anúncio não surpreende -não há mais nada que o governo peemedebista consiga fazer sozinho no Estado, a começar por pagar salários. A ajuda federal na segurança é apenas a primeira das que se fazem necessárias.
É também meramente paliativa. Cem soldados da Força Nacional, mais uns tantos policiais rodoviários, não serão capazes de impedir as guerras entre as facções do tráfico, menos ainda de reconquistar territórios perdidos após a derrocada do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).

Se quisesse tratar da questão a sério, Pezão precisaria recomeçar do zero, criando um novo plano de segurança. As perspectivas de que consiga fazê-lo são nulas, pelo simples fato de que não há mais dinheiro, que dirá planejamento.

Neste cenário, restam as ações temporárias para tentar manter o Estado sob algum controle até a próxima gestão. Elas são ilusórias. Se tanques e soldados federais nas ruas resolvessem o problema da violência, o Rio já estaria pacificado desde 1992.


Endereço da página:

Links no texto: