Folha de S. Paulo


Crivella não crê na imprensa

Camara Rio
Rio de Janeiro (RJ), 15/12/2016 - Diplomacao de Marcelo Crivella na Camara de Vereadores Foto:Camara Rio ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Diplomação de Marcelo Crivella na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO - Que Marcelo Crivella não gosta da imprensa é algo que já havia ficado claro durante a campanha eleitoral, quando o futuro prefeito do Rio fugiu de debates e cancelou entrevistas agendadas com diversos veículos.

Agora, seu marqueteiro e homem de confiança oficializou o desgosto. "Acho que ninguém é obrigado a lidar com a imprensa", disse Marcello Faulhaber em entrevista a Italo Nogueira, nesta Folha. Responsável pelo (vago) programa de governo de Crivella e membro da equipe de transição, o publicitário disse ainda que "a credibilidade da imprensa está baixa" e basicamente atribuiu a vitória de seu candidato à postura beligerante: "Antes ele sofria e não sabia reagir. Dessa vez reagiu de forma corajosa".

É um mau agouro para os próximos quatro anos da prefeitura. Se Crivella realmente acredita que não é obrigado a lidar com jornalistas, desconhece o que é ser um homem público, um prefeito do Rio. Se a imprensa cumprir o papel que dela se espera, sua administração vai ser escrutinada, investigada, criticada, cobrada. Como todo governo deve ser. Vai ser também elogiada, se fizer jus a isso. E terá de prestar contas, no mínimo fornecendo informações, como é obrigada a fazer a qualquer cidadão.

Pastor da Igreja Universal por anos, Crivella às vezes parece achar que os jornalistas, como seus fiéis, devem ver nele uma autoridade divina. Um pequeno exemplo: questionado sobre a demora para anunciar seu secretariado, um mês e meio após ter sido eleito, respondeu "Para que a pressa? Confie no prefeito eleito".

Tal postura sinaliza uma mudança drástica em relação à de Eduardo Paes –que pecava no sentido oposto, parecendo tomar decisões em reação a qualquer nota ou reportagem. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Afinal, como também disse Faulhaber, "a imprensa não é dona da verdade".


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