RIO DE JANEIRO - Abordar vítimas de tragédias nunca é tarefa simples. Isso vale tanto para quem precisa apoiar gente que perdeu amigos ou parentes quanto para jornalistas que precisam noticiar o acontecido. O acidente com o avião da Chapecoense mostrou novamente como é complicado agir nessas horas.
O caso do Catraca Livre foi exemplar. No auge do noticiário, o site aproveitou para publicar textos como "Dez fotos de pessoas em seu último dia de vida", incluindo as de jogadores do time catarinense. Foi uma decisão muito infeliz e que causou reação imediata dos leitores.
Os efeitos nefastos foram amplificados por dois textos subsequentes que tentavam justificar as publicações. Horas depois, já com milhares de seguidores a menos, o site pediu desculpas sem rodeios e afirmou ter errado.
O canal Esporte Interativo, por sua vez, decidiu não entrevistar nenhum parente dos mortos no dia em que receberam a notícia. É uma decisão elogiável –e que foi muito louvada nas redes sociais—, mas, como alguém que já precisou ligar para pessoas que choravam seus mortos, devo dizer que não é a única cabível ou aceitável.
Todo luto tem de ser respeitado, mas procurar uma pessoa para ouvi-la não necessariamente significa desrespeitá-la. É possível fazê-lo com delicadeza, prestando solidariedade sincera —e, como ficou demonstrado na cobertura desse e de outros casos, os jornalistas, como qualquer ser humano, se compadecem de quem sofre.
Quando o repórter se identifica como tal, antes mesmo de perguntar algo, geralmente o interlocutor já deixa claro se quer ou não falar. E não é incomum que as pessoas queiram. Que queiram deixar registradas boas lembranças e fatos que o público desconhece, mas que são importantes para que se tenha a dimensão das vidas que foram perdidas.