Folha de S. Paulo


O dilema dos Jogos

RIO DE JANEIRO - Os Jogos Olímpicos do Rio parecem, a esta altura, o clássico caso do copo meio cheio/meio vazio. É possível ter expectativas otimistas ou pessimistas sobre o evento e seu legado, dependendo da perspectiva que se usa.

Essa dicotomia está refletida nos resultados de uma pesquisa encomendada pelo Ministério dos Esportes sobre a Olimpíada, feita entre 13 e 18 de maio —antes de vexames de grande repercussão, como o descredenciamento do laboratório nacional que cuidaria da análise de doping.

O governo divulgou a sondagem focando a parte cheia do copo: "Jogos Rio-2016 são aprovados pela maioria dos brasileiros", dizia o texto oficial. De fato, 66% da população aprova totalmente ou em parte o evento, basicamente porque acredita que ele aquece a economia, incentiva o esporte e melhora a imagem do país.

Tal percepção dos efeitos positivos parece tão equivocada quanto a atribuição de responsabilidades: para a maioria da população (60%), o governo federal e seus órgãos são quem mais responde pela organização da Rio-2016. Eduardo Paes deve ter sentido grande desgosto ao saber que a Prefeitura do Rio é considerada a menos responsável pela Olimpíada.

Quem olha mais de perto, como os habitantes da cidade-sede, encontra menos razões para otimismo. Só 26% dos cariocas "aprovam totalmente" os Jogos. É um empate técnico com a quantidade de moradores do Rio que "desaprovam totalmente" (24,1%). Os motivos mais citados para justificar a desconfiança são palpáveis: "dinheiro mal investido/rombo", "crise econômica", "corrupção".

Particularmente reveladora do ânimo local foi a resposta à pergunta "o que você viu de mais positivo até agora nos preparativos para a realização dos Jogos?": 24% responderam "as obras de mobilidade urbana"; 21,7% (outro empate técnico) responderam "nada".


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