Folha de S. Paulo


Vambora, Ademário

RIO DE JANEIRO - Ocupando a cadeira de governador do Rio de Janeiro de forma inesperada, no meio da pior crise do Estado em décadas, Francisco Dornelles, 81, não vê a hora de largar isso tudo e colocar o pijama.

"Para mim, foi um abacaxi. Eu já tinha decidido encerrar a minha carreira política", disse ele sobre sua interinidade, em entrevista ao jornal "O Globo". É bastante nítido que o vice na chapa de Luiz Fernando Pezão não queria nem tinha condições de estar onde está, ainda mais neste momento. E o titular, que não vinha sendo muito mais eficiente na contenção da crise até ter de se afastar para tratar um câncer, não volta antes de agosto.

Quem vê Dornelles em suas raras manifestações públicas nota seu ar perdido, suas frases sem noção. "Esse decreto tem o objetivo de chamar a atenção de toda a sociedade do Rio para o estado de calamidade pública em que vivemos", disse ele no dia em que fez sua manobra para conseguir ajuda federal e tentar evitar uma tragédia olímpica. Como se a população precisasse de um decreto no "Diário Oficial" para se dar conta da calamidade que atinge o Estado e sua capital.

A inércia de Dornelles diante da crise virou meme na internet na semana passada graças à cena patética em que ele tenta literalmente fugir dos repórteres que o questionavam sobre o uso dos R$ 2,9 bilhões do governo federal.

"O dinheiro do metrô sai quando governador? Só tem dinheiro para a segurança?", perguntava um jornalista, sob o olhar atônito de Dornelles no banco do carona de seu carro oficial. "Vambora, Ademário", respondeu o interino, suplicando para que o motorista o salvasse.

Vai, Ademário. Leva o pobre homem para casa e, na volta, traz alguém que consiga governar esse Estado.

marco.canonico@grupofolha.com.br


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