Folha de S. Paulo


Micos, onças e outros bichos

RIO DE JANEIRO - Para justificar a ajuda federal de R$ 2,9 bilhões ao Rio, Moreira Franco, ex-governador do Estado e um dos homens fortes do governo Temer, disse que "não podemos pagar um mico internacional" durante os Jogos Olímpicos.

Deu azar: falou exatamente no dia em que o país pagou mais um mico internacional gigantesco associado ao evento, com a morte de uma onça que participou do revezamento da tocha em Manaus —cidade que corre o risco de dar outro vexame, não concluindo as obras necessárias para abrigar as partidas de futebol previstas.

De resto, a Rio-2016 já está micada há tempos, com sua baía poluída, suas obras mal resolvidas e seus injustificados despejos de moradores. Pode ser (e tomara que seja) uma grande festa, mas já tem contas a prestar.

Moreira também afirmou que o socorro autorizado pelo presidente interino visava "ajudar os servidores" do Estado do Rio, que não têm recebido salários, e os "serviços essenciais", que estão parando. Não foi isso que se viu na medida provisória que liberou a verba, atrelando-a exclusivamente à segurança dos Jogos.

Nem mesmo os R$ 500 milhões necessários para a conclusão do trecho olímpico do metrô, um dos principais pedidos do governo fluminense, foram autorizados. O Planalto acredita que os bilhões que o Rio receberá servirão para que o Estado gaste em outras áreas o dinheiro que usaria na segurança.

O prefeito Eduardo Paes, por sua vez, ficou uma arara com o governador interino, Francisco Dornelles, por "tentar jogar a culpa da crise na Olimpíada".

O episódio da ajuda federal deixou evidente que a tão exaltada união entre os três níveis de governo, peça-chave para que a candidatura fosse vitoriosa na disputa pelos Jogos de 2016, está rachando sob pressão.

No ritmo atual, o bicho vai pegar durante os Jogos.

marco.canonico@grupofolha.com.br


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