Folha de S. Paulo


Temer socorre a Rio-2016

RIO DE JANEIRO - Como já se esperava, apesar da propaganda oficial tentar convencer os cidadãos de que a Rio-2016 seria largamente bancada por dinheiro privado, os responsáveis pelos Jogos —prefeitura, Estado e comitê organizador— precisaram bater à porta do Governo Federal para pedir ajuda financeira.

O prefeito quer a liberação de um empréstimo de R$ 800 milhões. O Comitê Organizador busca R$ 120 milhões para a cerimônia de abertura. O Estado, quebrado e inadimplente, precisa de cerca de R$ 500 milhões para evitar o vexame de não entregar a tempo a linha 4 do metrô.

Para sorte dos pedintes, encontraram um presidente interino desesperado por boas notícias que tirem o foco da crise política trazida pela Lava Jato —e, portanto, disposto a gastar o que não tem.

"As Olimpíadas hoje significam muito para o país, especialmente num momento em que há uma certa falta de crença no país", disse Michel Temer em reunião com ministros, na semana passada. "Quando faltar dinheiro, nosso ministro da Fazenda já vem em socorro de todos".

Por um lado, é inevitável o resgate federal –deixar o evento fracassar às vésperas de sua realização custaria muito mais, financeira e simbolicamente. Por outro, é uma vergonha difícil de explicar.

Como justificar aos milhares de fluminenses atingidos pelos cortes do Bilhete Único e do programa Renda Melhor, que complementava o Bolsa Família, que a prioridade do socorro federal não são eles, mas obras infladas e com suspeitas de desvio? O que dizer aos servidores do Estado, que não sabem quando receberão integralmente seus salários?

Temer acha que ajudar a bancar a Olimpíada será o suficiente para apaziguar uma população que convive diariamente com a falta de dinheiro público para saúde, segurança e educação. Agosto dirá se é o caso.

marco.canonico@grupofolha.com.br


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