Folha de S. Paulo


Outro fracasso anunciado

RIO DE JANEIRO - Quando se fala nos grandes fiascos já confirmados da Rio-2016, sempre é citada a infame despoluição da baía de Guanabara, que o governo do Estado não vai cumprir como prometido.

Mas há um outro fracasso praticamente idêntico também já assegurado, embora menos comentado: o da recuperação do sistema lagunar da Barra e de Jacarepaguá. Como no caso da baía, é um problema antigo cuja solução estava prevista no dossiê de candidatura do Rio —seria um dos legados dos Jogos—, mas será frustrada.

A poluição das quatro lagoas do sistema, que fica na região que será o coração da Olimpíada, vem do século passado e foi agravada pelo crescimento populacional em seu entorno. No Pan-07, cogitou-se realizar ali as provas de esqui aquático. "Será um assassinato colocar qualquer pessoa dentro dessas lagoas. Isso é uma verdadeira lata de lixo", disse à época o biólogo Mário Moscatelli. A competição acabaria mudando de lugar.

Pouca coisa mudou de um evento esportivo para o outro. O malogro do plano de despoluição do local, orçado em R$ 673 milhões, teve todas as piores características das obras públicas da Rio-2016: começou com uma denúncia de formação de cartel e acabou com o governo estadual afirmando que não terá dinheiro para fazer o que havia prometido.

A pouca repercussão desse desastre certamente se deve ao fato de que aquelas águas não receberão nenhum esporte durante os Jogos —diferentemente da baía, sede das provas de vela.

Mas, como a lagoa de Jacarepaguá ladeia todo o Parque Olímpico, há uma boa chance de que atletas e espectadores percebam o problema, como já o fazem os moradores da área. Os Jogos acontecem em agosto e, no mesmo mês do ano passado, foram recolhidas seis toneladas de peixes mortos justamente ali.

marco.canonico@grupofolha.com.br


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