Folha de S. Paulo


Fala, artista

RIO DE JANEIRO - Nos meses que se seguiram aos protestos de 2013, não eram muitos os artistas que falavam abertamente sobre as manifestações. Fora figuras como Leandra Leal, Lobão e Wagner Moura, a maioria parecia não ter opinião ou coragem para expressá-la.

Por isso, é bom ver que agora são muitos os que resolveram se manifestar publicamente sobre a situação do país, seja participando dos atos pró ou contra o governo, seja em entrevistas ou nas redes sociais.

Seria ótimo se todas as manifestações da classe fossem bem informadas e ponderadas –Monica Iozzi deu exemplo disso recentemente–, mas mesmo uma expressão emocional e intempestiva é preferível ao silêncio covarde ou alienado, nem que seja para gerar reação a ela.

Nesse sentido, acho bom que Claudio Botelho, bem-sucedido diretor de musical que já havia se declarado a favor do impeachment nas páginas desta Folha, tenha levado para seu ofício um pouco de sua opinião, independentemente de concordar ou não com ela. Equivocou-se, no entanto, ao reagir histericamente às vaias e gritos de parte da plateia.

Chico Buarque também tem todo o direito de não querer que suas músicas estejam associadas a obras de cujas ideias não compartilha, mas faria melhor em não exercer esse direito; primeiro, por desnecessário –como se viu, parte de seus fãs sempre estará a postos para agir em defesa de seus ideais. Depois, porque há uma grande parcela do público que admira sua obra, mas antagoniza com suas opiniões políticas.

Até por isso, por alcançarem simultaneamente a esquerda e a direita, é importante que os artistas se manifestem publicamente.

Falta agora –e este será o melhor resultado– transformar todas essas discussões, opiniões, visões divergentes e dúvidas em arte. Temos a arte para não morrer da verdade.


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