Folha de S. Paulo


Uma biblioteca que alaga

RIO DE JANEIRO - A repetição dos títulos, ano após ano, é desanimadora: "Biblioteca Nacional tem terceiro vazamento em menos de um mês" (11/5/12); "Vazamento molha acervo e fecha exposição na Biblioteca Nacional" (7/11/15); "Biblioteca Nacional sofre com alagamentos após chuvas no Rio" (22/2/16).

Por motivos diversos –aparelhos de ar condicionado que vazam, registros que estouram, chuva que se infiltra–, a centenária BN e seu acervo têm sido vítimas da água há anos.

O caso mais recente foi na última sexta (19), e um vídeo postado em rede social por funcionários mostra a chuva caindo diretamente dentro do prédio, como se ao ar livre.

As inundações são apenas um dos problemas do inferno astral que a BN vive há anos: da escassez de mão de obra à infraestrutura periclitante, o centenário prédio chegou ao limite de sua degradação física.

Em setembro de 2012, a então ministra da Cultura, Marta Suplicy, anunciou que a instituição receberia um investimento de R$ 70 milhões em obras de engenharia. Reclamou, no entanto, do prazo de três anos para a conclusão da reforma: "Achei o prazo, até 2015, um pouco longo, fiquei de dar uma olhada para ver se consigo encurtar".

Não só não conseguiu como o prazo "um pouco longo" passou, a ministra da Cultura foi trocada –assim como o presidente da BN– e a obra continua inconclusa.

Ao assumir a presidência, em 2013, Renato Lessa disse que a instituição misturava "o mundo de [Jorge Luis] Borges com o de [Franz] Kafka": "A dimensão Borges tem a ver com esse paraíso na forma de biblioteca. Mas é um paraíso com fios desencapado, goteiras, que tiram o aspecto diáfano. O lado kafkiano diz respeito à burocracia".

Sua gestão até agora não evitou que funcionários e usuários sintam-se também no inferno de Dante.


Endereço da página: