Folha de S. Paulo


João e o show que não houve

RIO DE JANEIRO - Na semana passada, a Folha informou que João Gilberto, 84, estava vivendo no Copacabana Palace e "trabalhando em um projeto musical novo", segundo sua empresária.

A reportagem fez lembrar de um outro projeto musical do gênio da bossa nova, que acabou não sendo levado a cabo e causou dano ao erário: a turnê de seus 80 anos.

Ela aconteceria em 2011, com cinco shows em capitais diferentes, e geraria também um DVD gravado ao vivo. Os ingressos chegaram a ser vendidos –ou melhor, colocados à venda, já que os preços extorsivos (no Rio, entre R$ 600 e R$ 1.400) fizeram com que a procura fosse baixa.

O artista levaria R$ 4,5 milhões pelas apresentações e pela gravação, mas disse ter tido problemas de saúde que o forçaram a cancelá-las.

Até aí, seria apenas uma lástima para os fãs de bossa nova, mas irregularidades cometidas pelo Teatro Municipal, que sediaria o show no Rio, fizeram o cancelamento causar prejuízo ao Estado.

Isso porque a casa deu um indevido adiantamento de bilheteria à empresa baiana Maurício Pessoa Produções, responsável pela turnê e que dizia precisar pagar adiantado a João Gilberto. Pior: o Municipal liberou o dinheiro mesmo após a produtora dar calote no pagamento do aluguel do teatro.

Quando JG cancelou os shows e os compradores bateram na bilheteria em busca de ressarcimento, o Municipal pediu o adiantamento de volta, mas a produtora afirmou que já o havia repassado ao artista –a quem, portanto, caberia devolvê-lo.

A Procuradoria-Geral do Estado entrou com um processo contra os produtores em 2012 e, desde então, mudaram os procuradores, mudaram os juízes, mudou-se João Gilberto –agora, tocando violão de pijama no luxuoso Copa– e nada de a plateia ver o show ou o dinheiro público que foi malgasto.


Endereço da página: