Folha de S. Paulo


O lobby da cerveja em campo

RIO DE JANEIRO - Atolado numa disputa com a concessionária do Maracanã, que quer devolver ao governo o deficitário estádio, o governador Pezão sancionou, na segunda (19), uma lei que libera a venda de cerveja em estádios do Rio de Janeiro, proibida desde 2008.

"Essa lei vem ao encontro do nosso esforço de preservar empregos dinamizando a economia", disse o governo em nota oficial, na qual não há menção ao fato que levou à proibição: a violência.

É claro para qualquer frequentador de grandes estádios que o ambiente era pior na época da cerveja liberada. Não são poucos os torcedores movidos por uma paixão irracional por seus times –e essa irracionalidade, embebida em álcool, é estopim para brigas e vandalismo.

Além disso, a bebida potencializa a falta de educação dos torcedores –por exemplo, qualquer canto do estádio vira banheiro e, não raro, o sujeito urina num copo e o joga em quem está embaixo.

Por fim, há que se considerar a quantidade de gente que vai ao estádio de carro e que estará inapta para dirigir após beber. Pezão acredita que a obrigação de mostrar no estádio mensagens do tipo "se beber não dirija", também prevista na lei que libera o consumo, vai ser eficaz?

O Rio foi o sexto Estado a adotar este retrocesso. Felizmente, a Procuradoria-Geral da República já afirmou que as leis estaduais são inconstitucionais, pois invadem a esfera da União e contrariam o Estatuto do Torcedor. Há uma Ação Direta de Inconstitucionalidade a ser julgada pelo STF.

Infelizmente, há também em andamento uma tentativa da Câmara de modificar o estatuto para liberar o campo para o álcool.

Espera-se que os interesses humanos prevaleçam sobre os econômicos. Já está suficientemente ruim assistir ao futebol brasileiro cercado de gente sóbria.


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