Folha de S. Paulo


Gigantes insustentáveis

RIO DE JANEIRO - No cruzamento entre as duas principais avenidas da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, existe um gigante de concreto chamado Cidade das Artes.

É impossível passar por ali e não reparar na construção elevada a dez metros do solo. Igualmente impossível era ignorar os inúmeros alertas que a obra deu ao poder público.

A construção começou em 2003, na segunda gestão de Cesar Maia (DEM) na Prefeitura do Rio, com um custo previsto de R$ 80 milhões.

A inauguração foi em 2013, dez anos e R$ 550 milhões depois. E sem um plano viável para que o espaço se sustentasse financeiramente.

Segundo dados da prefeitura, a Cidade das Artes consumiu cerca de R$ 43 milhões apenas para sua manutenção, desde a inauguração.

Como sua arrecadação total no mesmo período –com venda de ingressos e aluguel de suas salas– foi de cerca de R$ 6,4 milhões, a Prefeitura do Rio gastou mais de R$ 35 milhões em menos de três anos num equipamento cultural que ainda está aquém de suas pretensões iniciais.

Eduardo Paes (PMDB) poderia ter aprendido com o erro de seu antecessor e tentado não repeti-lo.

Preferiu, no entanto, investir mais dinheiro público em uma série de outros gigantes insustentáveis, como o Museu de Arte do Rio, cuja simples manutenção (sem incluir as exposições) custa R$ 12 milhões por ano –valor que os administradores consideram baixo e tentam rever, pedindo mais R$ 4 milhões anuais.

Cenário igualmente preocupante de criação de despesas futuras está sendo desenhado pela Rio-2016.

Paes gosta de alardear que as obras olímpicas são bancadas por dinheiro privado (meia verdade) e não gerarão "elefantes brancos". Mas não apresentou ainda o custo de manutenção das arenas pós-Jogos.

Por seu histórico, pode-se prever que a conta vai ser milionária –e bancada pelos cariocas.


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