Folha de S. Paulo


Desistindo do Rio

RIO DE JANEIRO - Bandidos fazem arrastões, justiceiros fazem caçadas humanas e linchamentos aleatórios.

Traficantes torturam e matam um PM, usando um cavalo para arrastar seu corpo ainda vivo; PMs matam um traficante menor de idade, rendido, e armam uma farsa para justificar o assassinato.

O noticiário recente sobre o recrudescimento da violência no Rio ajuda a entender o atual pessimismo dos cariocas, registrado em estudo do Movimento Rio Como Vamos.

A quinta edição da "Pesquisa de Percepção - Como o Carioca Vê o Rio", realizada em junho e divulgada nesta semana, trouxe alguns dos piores indicadores desde que se passou a fazer tal levantamento, em 2008.

Mais de 70% da população acredita que a segurança piorou na cidade, o percentual mais alto já registrado.

As classes A e B citam os roubos de rua como principal problema; classes C e D têm mais medo de bala perdida.

O principal programa de segurança do Estado, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), caiu em descrédito: para 41% dos cariocas, o sistema é ruim. Na última pesquisa, em 2013, os moradores de bairros que têm UPPs viam mais prós do que contras no sistema; hoje, essa tendência se inverteu.

Os reflexos dessa percepção negativa estão registrados: 56% da população disse que gostaria de sair da cidade, alegando a violência como principal motivo. Em 2013, eram 48%; em 2011, 27%.

Apenas 43% dos cidadãos dizem ter orgulho de ser carioca, o percentual mais baixo de todas as edições –na última pesquisa, eram 63%.

O pessimismo contaminou também as expectativas relacionadas à Rio-2016: 63% dos cariocas acreditavam, em 2011, que os grandes eventos (aí incluída a Copa-2014) trariam apenas benefícios para a cidade. Neste ano, somente 27% ainda têm tal ilusão.


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