Folha de S. Paulo


marco aurélio canônico

Money in Rio

RIO DE JANEIRO - É triste notar como o Rock in Rio, cuja sexta edição começa nesta sexta (18), foi perdendo relevância cultural à medida que aumentava seu sucesso comercial.

O primeiro festival, em 1985, foi um empreendimento arriscado em termos financeiros, mas de impacto artístico, trazendo bandas estrangeiras inéditas por aqui.

As edições seguintes, em 1991 e 2001, mantiveram certa importância cultural ao escalar uma mistura de artistas consagrados e novos. Paralelamente, o negócio começou a se tornar lucrativo.

Há alguns anos, no entanto, Roberto Medina, criador do festival, percebeu que poderia ganhar muito dinheiro vendendo um conceito de evento no qual a parte cultural fica em segundo plano.

"O negócio é a festa, o encontro das pessoas, elas vão ao Rock in Rio pela experiência. Já vendi 100 mil ingressos sem anunciar banda", disse o empresário em 2012.

Desde então, o festival esgota os ingressos antes mesmo de listar suas atrações –detalhe irrelevante para um público que quer mais é postar fotos mostrando que esteve lá.

Como consequência, a edição deste ano é a pior em escalação, com um apanhado de artistas antiquados e que, em sua maioria, já se apresentaram antes no próprio evento.

Ainda pior é notar que, apesar de seu faturamento milionário com ingressos e patrocínios, as edições de 2011 e 2013 usaram dinheiro público –legalmente, via Lei Rouanet– e a atual só não o fez porque houve uma irregularidade, noticiada pela Folha: os ingressos estavam sendo vendidos a preços superiores ao que havia sido combinado.

É lamentável que Medina tenha abdicado de promover a música usando a força de sua marca. Que pelo menos pare de usar dinheiro público para aumentar seus lucros sem entregar nada culturalmente relevante em troca.


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