Folha de S. Paulo


Gilmar deveria processar Gilmar

Quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes pôs em liberdade o médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por 58 estupros, a atriz Monica Iozzi, indignada, fez um post na internet criticando a decisão.

Foi processada por Mendes e - condenada por outro juiz - teve que pagar 30 mil reais por danos morais.

Débora Gonzales/Editoria de Arte/Folhapress
Débora de 27 de ago de 2017

Na sentença o juiz que a puniu disse que atitude de Monica acabava tornando questionável o caráter de Mendes e "a imparcialidade na condição de julgador, fato suficiente para atingir a sua honra e imagem".

Bom, se atitudes que questionem a imparcialidade do ministro merecem condenação, está na hora de Gilmar Mendes processar Gilmar Mendes.

A mais recente razão foi o habeas corpus concedido por Mendes a Jacob Barata Filho. Gilmar foi padrinho de casamento da filha do preso.

O ministro deveria processar o padrinho por colocar em cheque a sua imparcialidade.

Em outro caso, um dia depois de Rodrigo Janot apresentar denúncia contra Michel Temer por corrupção passiva, Mendes jantou em sua casa e fora da agenda oficial com o próprio Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Esse encontro "não oficial" poderia ter comprometido a imparcialidade do ministro., que deveria processar o anfitrião.

Há pouco tempo veio à tona que a J&F, controladora da JBF, gastou mais de 2 milhões de reais em patrocínios a eventos do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), que tem Gilmar Mendes como sócio.

Sem entrar no mérito do que sinaliza para a sociedade um ministro do Supremo ser sócio de uma faculdade que já recebeu até mesmo patrocínio da Caixa Econômica Federal, esse dinheiro da J&F já seria motivo para o
Gilmar Mendes ministro processar o Gilmar Mendes empresário por comprometer sua tão clara imparcialidade.

Em outro exemplo da onipresença de Gilmar Mendes, a polícia gravou um telefonema de Aécio Neves ao ministro pedindo que este ligasse a outro senador para conseguir seu voto em um projeto. Aécio Neves é investigado em seis inquéritos no Supremo. E ainda assim tem a liberdade de ligar para o celular de Mendes e ser atendido em um favor político.

O ministro deveria processar imediatamente o amigo do senador que o colocou em grave suspeição.

Gilmar Mendes tem razões de sobra para processar todos os outros Gilmar Mendes que colocam em dúvida sua imparcialidade: o padrinho, o anfitrião noturno, o empresário, o assessor político... Tem tudo pra ganhar.

Aliás, como jamais se considera impedido, ele mesmo poderia julgar seu processo contra si. Acho que ninguém se espantaria.


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