Folha de S. Paulo


Ainda distribuindo cultura

Na coluna da semana passada tratei do absurdo de tantas nomeações políticas em órgãos culturais do Rio de Janeiro, e também da transformação do laboratório digital previsto em convênio com o governo federal em cinco pequenos laboratórios em municípios diferentes.

Em resposta, recebi de André Lazaroni, secretário estadual de Cultura, uma mensagem que visa esclarecer os pontos que levantei. Destaco aqui alguns trechos da carta. Sobre as nomeações, diz Lazaroni:

"O atual diretor do Teatro Armando Gonzaga [...] tem vasta experiência em administração de empresas e gerenciamento de crise. Não podemos desqualificá-lo simplesmente porque ele nunca administrou um espaço cultural [...]".

Débora Gonzales/Editoria de Arte/Folhapress

"[...] Diretor administrativo e operacional da Funarj é bacharel em direito e foi subsecretário de administração de Belford Roxo [...]".

A mesma linha de argumentação justifica outros indicados do secretário, que mais à frente conclui: "Ao assumir uma pasta, todo gestor [...] busca se cercar de pessoas em quem confia e que acredita serem competentes".

As explicações do secretário não convencem. Ele tenta tirar de cada nomeado a pecha de indicação política para classificar como qualificação técnica. Mas são pessoas estranhas ao meio artístico, que não têm experiência em gestão de espaço cultural –que é bem diferente de gestão de restaurante ou qualquer outro tipo de empresa.

Que coincidência todos os técnicos capacitados serem políticos derrotados também, não é?

Por fim, queria muito saber por que o diretor da Funarj, Joacyr dos Reis Nogueira, é chamado de bacharel em direito pelo secretário e não de inspetor de polícia, cargo para o qual foi nomeado ano passado. Foi pra parecer mais qualificado para um ambiente cultural?

Sobre o laboratório digital, escreve Lazaroni: "É perfeitamente possível construir um laboratório menor na capital para que outros municípios também possam ter os seus. [...] Nenhum laboratório dessa iniciativa se tornaria um 'elefante branco' com tamanha procura".

Qual procura? Existe um estudo técnico de demanda que justifique cinco laboratórios em vez de um bem melhor? Quais critérios foram usados para se chegar aos cinco municípios? Que municípios são esses?

Agradeço as explicações de André Lazaroni e estarei sempre aberto a elas. Mas continuo achando claríssimo o loteamento que está sendo feito a partir da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de janeiro.

Não cabem neste espaço as muitas e assustadoras histórias que chegam desde o último domingo. A classe artística vê com apreensão a construção de todo um jogo político visando as eleições de 2018 e não vai deixar barato. Esta coluna também não.


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