Folha de S. Paulo


Algodão doce pra vocês

Escrevo esta coluna na véspera de um dos dias mais importantes da minha vida. Amanhã uma espera de mais de 35 anos chega ao fim.

Débora Gonzales/Editoria de Arte
Débora Gonzales 6.ago.2017

Quando você estiver lendo esta coluna, se tudo der certo, eu já estarei com meu autógrafo do Daniel Azulay. Um autor com quem trabalho vai encontrar Daniel amanhã e levar a ele meus livros da Turma do Lambe-Lambe, de 1982. São três volumes superbem conservados, que guardei esses anos todos e há meses dei às minhas filhas.

Daniel Azulay foi o cara que me apresentou o lúdico antes de eu saber o que era lúdico. Com ele aprendi a poesia que existe por trás de um caminhão de brinquedo feito de bolas de isopor, cartolina, caixa de sapato e uma tesoura sem ponta.

Foi vendo Daniel Azulay desenhar "boneco de arame" como rascunho, que descobri a existência de técnica até para o que parece um dom divino. O "pincel mágico" de Daniel Azulay é o primeiro truque televisivo que eu recordo.

Ainda tenho um compacto da Turma do Lambe-Lambe, com músicas que eu cantava feliz indo pra escola.

A Turma do Lambe-Lambe, aliás, foi tema das minhas festas infantis por vários anos. Eu desenhava razoavelmente bem os personagens, e entregava o desenho pronto para a doceira copiar e fazer meu bolo.

Amava as histórias de Xicória, Gilda, Professor Pirajá, Damiana, Pita, Piparote, Ritinha, Tristinho e Bufunfa. Imitava as vozes e criava minhas histórias. Eu imitava também o próprio Daniel e, por muito tempo, andei por aí de suspensório e gravata borboleta.

Daniel Azulay aparecia em duas emissoras de TV ao mesmo tempo: a Educativa e a Bandeirantes. Por mim, apareceria em rede nacional.

Na TV dos anos 1980 ele nos divertiu, ensinou sobre reciclagem antes de virar moda, e, de quebra, proporcionou a crianças de famílias carentes a alegria de ter um brinquedo se pelo menos tivesse em casa uma caixa de fósforo.

Daniel me fez companhia até que eu crescesse. Depois, não se aborreceu com minha ingratidão adolescente. Foi divertir e ensinar outras crianças. Ainda hoje, com 70 anos, o mesmo rosto alegre e sorriso largo, ele ensina a desenhar e brincar em seu canal no YouTube. Se você, como eu, morre de saudades do Daniel Azulay, vá ao computador com seu filho e finja que é só para o bem dele que você está ali visitando a sua infância.

Obrigado, Daniel Azulay. E aos que me leem, bom domingo, um grande abraço e ó... algodão doce pra vocês.


Endereço da página: