Folha de S. Paulo


O teatro se reafirma quando uma força poderosa nos relembra sua missão

Domingo passado foi o último dia da temporada carioca de "Monólogo Público", espetáculo do Michel Melamed. Que ele é um artista inquieto, provocador, inteligente, talentoso, a gente já sabia. Mas nesse trabalho ele se revela maduro, senhor dos tempos, dono do palco, dos climas e das reações do público.

É lindo ver um artista pensar e pulsar na plenitude que Michel Melamed alcança em seu monólogo. Responsável por texto, direção e interpretação, ele faz do encontro de uma hora com a plateia uma experiência inesquecível e impactante.

Fica, Michel. Fica em cartaz.

Viaja por aí. O Brasil merece te ver. E ouvir cada palavra do texto.

O teatro todo se reafirma quando uma força tão poderosa nos relembra pra que ele serve. Para nos mudar. Para nos fazer sair da sala escura melhor do que a gente entrou, ou, no mínimo, diferente.

"Se você é a favor da ditadura, por que não se comporta como se estivesse em uma e para de dar opinião?" "Minha mãe foi a pessoa mais frágil que eu já quebrei."

Essas são algumas das muitas frases que ficam do encontro com a veemência doce desse artista admirável. Sempre brinquei que ser cantor é mais recompensador do que ser ator porque ninguém sai do teatro repetindo seu texto, mas as pessoas saem pelas ruas cantando depois de um show. Melamed provou que não. As falas dele agarram em você.

É tão perturbador que -assim como eu nesta coluna- você não consegue nem explicar a quem não viu sobre o que é o monólogo. Ficamos todos meio bobos dizendo "cara, vai ver", "tem que ver", "o cara arrasa", "muda a tua vida".

Enquanto Melamed decide se vai entrar em turnê, quem ainda não o viu no palco pode experimentar a inteligência e a inquietude transformadora do artista na TV em "Bipolar Show". Vai ao ar no Canal Brasil. Mas você pode ver tudo on-line pelo Globosat Play.

Ali tem inteligência, rapidez, provocação, risco, atitude -tudo que a gente admira e espera que surja de um artista genuíno.

Michel Melamed faz a diferença e vale cada segundo de quem se dispõe a ver o que ele cria.

Recomendo especialmente a entrevista com Débora Bloch, um big bang de talentos. Que alívio saber que tem um Michel que vale a pena.

Fica em cartaz, cara! E muito obrigado. Que lindo assistir a um artista sabendo o seu porquê.

Débora Gonzalez/Editoria de Arte/ Folhapress
Ilustração coluna Marcius Melhem

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