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Antes de investir em ações, avalie bem sua tolerância a risco

Fernando de Almeida/Folhapress
Mercado de ações é famoso pela volatilidade e requer tolerância a risco
Mercado de ações é famoso pela volatilidade e requer tolerância a risco

Fernanda está preocupada, acha que, com a queda da taxa de juros, não vai conseguir atingir o objetivo que queria. Está pensando em investir em ações, na expectativa de ganhar mais do que na renda fixa.

O problema é que Fernanda nunca investiu em ações. Entrar na Bolsa só porque está descontente com o menor rendimento que vem exercendo na renda fixa não é uma boa decisão.

Ela tem perfil conservador. Investe no Tesouro Selic, um título público emitido pelo Tesouro Nacional, considerado livre do risco de crédito. Nunca viu o valor do título se desvalorizar; ele segue a variação da taxa Selic, com trajetória sempre positiva.

Fernanda começou a pensar na hipótese de investir em ações influenciada por um amigo que "brinca" com uma carteira de ações e, segundo ela, ganhando dinheiro.

Perguntei se ele nunca perdeu, e ela respondeu que sim, que ele já passou por poucas e boas nessa iniciativa solitária de investir em ações. Não deixa de ser uma experiência educativa, e, se ele estiver estudando o assunto, pode se tornar um investidor de mão cheia.

Fernanda relata outra experiência, a do pai, que não teve um final feliz. Ele usou recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para comprar ações da Vale e da Petrobras com a expectativa de ganhar mais dos que os pífios 3% ao ano, taxa que remunera o saldo do FGTS. Ficou superanimado no início com a valorização dos ações, mas não resistiu quando viu o preço desabar. Ele confirmou a tese de que a dor da perda é maior do que o prazer do ganho e vendeu as ações, realizando o prejuízo antes que ele se agravasse.

Se você nunca investiu em ações, é um típico investidor no mercado de renda fixa, como a Fernanda, e está pensando em entrar na Bolsa, cuidado, avalie bem seu perfil de tolerância a risco. O mercado de ações é famoso pela volatilidade. Para colher um resultado positivo, o investidor atravessa períodos de muita turbulência e alta volatilidade no valor dos papéis.

Muitos não conseguem atravessar os períodos de baixa e vendem suas ações no primeiro movimento de queda acentuada, realizando um prejuízo que dificilmente será recuperado, como fez o pai de Fernanda. Arrependidos, voltam para a renda fixa em busca de refúgio.

O principal risco do investidor em renda fixa é o risco de crédito, possibilidade de a instituição financeira quebrar e não devolver seu dinheiro. Porém, conta com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que garante até R$ 250 mil por CPF.

No investimento em ações, o principal risco é o de mercado, que provoca forte oscilações nos preços dos papéis. Fatores políticos e macroeconômicos afetam o conjunto de ações cotadas no mercado, para o bem ou para o mal. É denominado de risco sistemático e não é possível evitá-lo, mesmo com uma boa diversificação de carteira.

Os fatores microeconômicos que afetam o preço das ações de uma empresa específica ou empresas de um mesmo setor são conhecidos como risco não sistemático. Esse pode ser reduzido com uma diversificação eficiente. Uma carteira com ações de boas empresas de diferentes setores, com baixa correlação entre elas, está menos exposta ao risco de mercado.

Ao investidor principiante, como a Fernanda, recomendo investir por intermédio de fundos de investimento em ações. Um gestor profissional tomará as decisões de comprar ações de setores com melhor expectativa de retorno e de vender quando tiver a avaliação de que a ação já atingiu o preço justo. Investir por conta própria, sem estudo e conhecimento, tem grande chance de dar errado. Pura especulação.

Na sua primeira experiência em Bolsa, invista no máximo 5% dos seus recursos, um montante que não será necessário a curto e médio prazo. E observe como você se sente perante a flutuação desfavorável de preços. Só cogite aumentar sua exposição a esse risco se sentir conforto em fazê-lo.

Se você é um investidor de perfil arrojado, com objetivo de investimento de longo prazo e tolera eventuais perdas, em um contexto macro e microeconômicos favoráveis, poderá colher bons frutos dessa maior exposição ao risco.


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