Folha de S. Paulo


Rentabilidade passada de fundo? Descarte

Fernando de Almeida/Folhapress
Ilustração Marcia Dessen de 7.ago.2017

"Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura."

Quem investe em fundos de investimento já leu e ouviu essa frase inúmeras vezes. Quem distribui fundos para o público é obrigado, pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a divulgá-la em todo e qualquer informe de rendimentos, como extratos dos cotistas e peças publicitárias.

A rentabilidade passada de um fundo decorreu de fatos e estratégias realizadas pelo gestor. Pertence ao investidor que já era cotista do fundo antes dessas ocorrências. O novo cotista ganhará a rentabilidade futura, maior ou menor, consequência de fatos ainda imprevisíveis e estratégias que ainda serão implementadas.

Apesar disso, muita gente compra e vende adesão a fundos de investimento com base na rentabilidade passada. Na busca pelo "melhor" fundo, a tendência é deslizar rapidamente o olhar pela longa tabela da rentabilidade de todos os fundos que o banco oferece. E adivinha qual deles chama a atenção e logo recebe os louros de melhor? Esse mesmo, o mais rentável, aquele que ganhou mais, em termos absolutos.

Como se isso não bastasse, a rentabilidade que atrai se refere, normalmente, a um prazo curto, de um mês, ou acumulada no período de seis meses. O investidor raramente analisa o desempenho de longo prazo, últimos dois ou três anos, por exemplo. E também não verifica a rentabilidade relativa ao índice de referência da classe à qual o fundo pertence.

A rentabilidade de um fundo não é obra do acaso. Deriva da política de investimento adotada pelo gestor, no ambiente macroeconômico de determinado período. Se as condições econômicas mudam, as variáveis econômicas também mudam. Inflação, taxa de juros, taxa de câmbio e preço das ações não serão os mesmos.

Recentemente, a rentabilidade passada dos fundos de renda fixa que investem em taxa prefixada atraiu novos investidores. O desempenho desses fundos foi bom porque a taxa de juros caiu e os títulos se valorizaram nesse cenário. Ganhou quem já estava no fundo. A rentabilidade futura será boa novamente se e enquanto os juros continuarem a cair. É preciso ficar atento, porque essa estratégia (taxa prefixada) só é vencedora em cenário de queda dos juros. Se houver uma reversão na tendência da trajetória da inflação e taxa de juros, será preciso repensar rapidamente essa posição.

Par quem não sabe, não conhece e não tem tempo de ficar vigiando as variáveis econômicas, a melhor alternativa seria aderir a um fundo de renda fixa de gestão ativa, cujo gestor terá a liberdade de investir em taxa pós-fixada, prefixada ou inflação, em busca do melhor retorno.

"Estou pensando em aplicar no fundo DI do meu banco que está rendendo 0,75% por mês, com 11,92% acumulados do ano", escreveu Helena. Permita-me corrigir o tempo verbal, Helena. O fundo não está rendendo, o fundo rendeu 0,75% no último mês. Quanto ele vai render no próximo? Não sabemos.

Quanto à rentabilidade acumulada no ano, perceba que ela incluiu um período de juros superiores aos atuais, razão pela qual parece atraente. Você deve estar pensando que pode ganhar quase 12%, bem acima da taxa Selic atual de 9,25%, não é mesmo? Se as previsões se confirmarem e os juros caírem um pouco mais, a rentabilidade acumulada dificilmente será superior a 10%.

Otávio me contou que o banco dele oferece um fundo de renda fixa que paga 12,68% ao ano e quer saber minha opinião sobre o produto. De novo, vamos corrigir o tempo verbal. O fundo não paga 12,68% ao ano. Esse foi o retorno de quem aderiu 12 meses atrás e se beneficiou da queda dos juros.

Jogue fora, ignore, esqueça a rentabilidade passada. Ela ficará para a história, registro de tempos de crise, de recessão, de queda da inflação e consequente queda de juros. Ela reflete o passado.

O futuro se delineia bem distinto desse passado recente. Embora as variáveis econômicas do país (inflação baixa e juros em queda) sejam positivas, o cenário político ainda é de muita incerteza. A retomada do crescimento econômico, que, tomara, não tarde, trará um cenário bem diferente do atual. Qual será a rentabilidade do seu investimento? O futuro dirá.


Endereço da página: