Folha de S. Paulo


Lucros e perdas

Reuni-me com amigos para colocar o papo em dia, contar as novidades sobre trabalho, família, últimas viagens. Política e dinheiro, embora não previstos, foram assuntos sobre os quais conversamos também.

Não fiquei surpresa de notar a dificuldade de alguns em relação aos ganhos e às perdas em investimentos. Taxas, impostos, inflação e custo de oportunidade nem sempre são levados em conta na hora de medir o resultado de um investimento.

RENDA FIXA

Andrea comentou que agendou reunião com seu gerente de conta para conversar sobre o desempenho do fundo de investimento que comprou, por forte influência dele. O fundo, que vinha rendendo bem, teve valorização negativa no último mês. "Se resgatar as cotas agora, receberei menos do que apliquei! Em um fundo de renda fixa? Como é possível?"

Expliquei que toda aplicação em títulos de taxa prefixada perde valor quando a taxa de juros sobe. Entretanto, a perda pode ser revertida quando a taxa de juros cair. Nesse cenário, o valor da cota se valoriza, proporcionando o ganho esperado.

Se Andrea tivesse sido alertada, ou investigado um pouco mais, talvez tivesse optado por outro tipo de fundo. Aprendeu que a escolha deve ser sua, baseada na política de investimento do fundo, e não olhando pelo retrovisor, que mostra apenas a rentabilidade passada.

IMÓVEIS

Carlos herdou do pai o gosto de investir em imóveis. Tem quatro imóveis residenciais alugados e recebe de cada um deles $ 1.200 mensais. Os inquilinos são antigos e pagam em dia seus compromissos. Como os imóveis são relativamente novos, não tem nem aborrecimentos nem despesas de manutenção.

Ele não se dá conta de que poderia ganhar muito mais se aplicasse no mercado financeiro, por exemplo. O aluguel que recebe ($ 1.200), dividido pelo valor do imóvel ($ 300.000), resulta em rentabilidade bruta média de 0,4% ao mês.

Deixa de ganhar cerca de 0,5% ao mês ao optar pelo investimento em imóveis em detrimento de uma aplicação financeira que remunera a taxa de juros básica da economia.

Carlos também paga mais Imposto de Renda pela escolha que fez. A renda de aluguéis é classificada como rendimento tributável. Depois de recolher mensalmente o carnê-leão, será somada às outras rendas tributáveis na declaração de ajuste anual, com carga tributária de até 27,5%.

INFLAÇÃO

Francisca é muito conservadora e não cogita investir em outra coisa que não seja a tradicional caderneta de poupança. Ela está convencida de que não corre riscos e que vai ganhar sempre. Rendimento estável na faixa de 7% ao ano, sem oscilação de preço, sem Imposto de Renda, é tudo o que ela quer.

Entretanto, há uma perda oculta que ela não percebe. Inflação na casa dos 10% ao ano provoca perda inflacionária de 3%. Embora seu capital aumente todos os meses, seu poder de compra diminui. Não sei se consegui convencer Francisca de que existe coisa melhor no mercado...

IMPOSTO DE RENDA

Renato quer saber se a rentabilidade dos fundos de investimento é bruta ou líquida. Depende, líquida da taxa de administração cobrada pelas instituições financeiras, mas bruta do IR que ainda não foi pago.

Renato aderiu a um plano do tipo PGBL com a expectativa de pagar apenas 15% de Imposto de Renda. O gerente do banco que faz essa afirmação não conhece bem o produto que vende e provavelmente nunca fez sua própria declaração do IR.

O que o gerente não sabe e se equivoca na orientação de seus clientes é que a opção pela tabela progressiva gera ajuste de contas com a Receita na declaração anual. O imposto de 15%, pago na fonte, é apenas o começo da história e mera antecipação do imposto devido na declaração de ajuste anual.

A carga tributária final de Renato pode chegar a 27,5%. Sugeri a ele repensar a escolha do regime de tributação e mudar para a tabela regressiva. Nada mal esperar dez anos para pagar apenas 10% de Imposto de Renda, não é mesmo?

Nosso encontro terminou com assuntos mais amenos e com um brinde à vida, a nossa amizade e à esperança de um futuro melhor para o Brasil. Do nosso, estamos cuidando.


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