Folha de S. Paulo


Sonho ou realidade

Carla, Alexandre e os dois filhos estão exultantes. Acabam de voltar da viagem sonhada e planejada durante muito tempo. Uma viagem realmente inesquecível, um lugar mágico, onde a fantasia e os sonhos acontecem. As lembranças, as emoções, a alegria ficarão na memória para sempre.

Conhecer a Disney era o sonho das crianças, e realizar o desejo dos filhos era o sonho dos pais. O planejamento que fizeram indicou a quantidade de dinheiro necessária (dólares, nesse caso) para passagens, hospedagem, refeições e compras, é claro. Três anos foi o prazo definido para o embarque e assim ficou fácil calcular quanto deveriam economizar por mês, cortando outras despesas, para viabilizar a tão sonhada viagem.

Comprometidos e interessados em guardar o dinheiro, fizeram um pacto para, individualmente e em grupo, zelar pelo plano e transformá-lo em realidade. Quando um deles estava prestes a cair em tentação, gastando dinheiro com coisas não planejadas, havia sempre um guardião por perto para lembrar que aquele dinheiro não estava sobrando, era o dinheiro da viagem!

E foi assim, cortando gastos desnecessários e guardando o dinheiro extra que recebiam (férias, 13º salário, restituição IR, bônus), que conseguiram poupar para a viagem. Os dólares foram comprados ao longo do tempo. Não queriam correr o risco de ver o sonho não realizado em razão de mudança na taxa de câmbio, variável sobre a qual a família não tinha nenhum controle. O plano não seria adiado e o esforço da família não seria em vão por causa disso!

Orgulhosos do que foram capazes de conquistar, a família já está pensando no próximo projeto que, juntos, transformarão em realidade.

Os vizinhos do casal, Pedro e Rebeca, têm o mesmo sonho, mas adiaram, mais uma vez, a viagem para a Disney. Até hoje eles não sabem direito por quê. As desculpas são muitas: o dinheiro não dá, está tudo caro, o câmbio subiu... A culpa nunca é deles, mas de fatores externos que os impedem de realizar seus desejos.

As crianças, que nunca foram envolvidas no compromisso de guardar dinheiro para a viagem, continuam querendo, mas gastam dinheiro com coisas que hoje parecem tão indispensáveis e amanhã já nem se lembram mais.

Nessa família, o desejo nem chegou a se transformar em plano. Plano que deixaria claro "quanto, quando, como e quem". Quanto custa a viagem? Quando poderemos ir? Como pouparemos o dinheiro de que precisamos? Quem está comprometido e será responsável por monitorar o plano?

Sem planejamento, fica muito mais difícil, para não dizer impossível, realizar o sonho. Depender da sobra de dinheiro? Não vai acontecer, nunca sobra, pelo contrário, vez ou outra, avançam no limite do cheque especial ou financiam a fatura do cartão de crédito.

Aumento de salário não vai rolar. Ganhar na loteria, também não. O dinheiro virá do esforço da família, que deve abrir mão de parte dos gastos atuais em favor desse projeto.

Como fazer? Reduzir a quantidade de refeições fora de casa, não comprar roupas e sapatos cada vez que entram em um shopping para passear, cortar ou reduzir compras pela internet, não comprar na liquidação uma roupa de que você não precisa só porque está barato, não trocar o smartphone só porque saiu uma nova versão, e por aí vai.

Cada um sabe onde pode cortar. Mas o corte só será feito se houver uma razão maior, um propósito forte, desejado por todos. Se a viagem não tiver significado para todos, será muito difícil. Sempre terá alguém boicotando, gastando fora do combinado e anulando o esforço do outro. E, se um gastar, o outro também vai, porque não quer pagar a conta sozinho, será desencorajado e o plano pode ir por água abaixo.

E você, de que lado está? Continua sonhando ou está transformando seus sonhos em realidade?


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