Folha de S. Paulo


Pequeno e médio investidor se afastam de fundo de investimento

A indústria de fundos lamenta a perda dos pequenos e dos médios investidores que tradicionalmente geram estabilidade de recursos e de receita a administradores.

O atual volume de dinheiro depositado pelo varejo, na casa dos R$ 160 bilhões, é inferior ao de seis anos atrás. A quantidade de investidores também caiu significativamente, deixando claro que os investidores migraram para outras alternativas.

Além dos grandes bancos e dos gestores independentes de recursos, o governo se preocupa com esse movimento, visto que a indústria de fundos é um grande financiador da dívida pública.

Os títulos públicos federais representam cerca de 60% da composição das carteiras dos fundos. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão regulador e fiscalizador do mercado, e a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) se mobilizam para revisar e simplificar as regras de funcionamento dos fundos visando recuperar os investidores do varejo.

A reforma visa, entre outros objetivos, viabilizar a criação de um fundo de baixo custo, ampliar a comunicação eletrônica entre administradores e cotistas e simplificar as categorias de fundos para facilitar a escolha do investidor.

ONDE ESTÃO

Para onde foram os investidores? Nos últimos 12 meses, a captação líquida da poupança, descontados os resgates feitos no mesmo período, se aproximou dos
R$ 60 bilhões. As LCI (Letras de Crédito Imobiliário), isentas de Imposto de Renda, arrebanharam outros R$ 35 bilhões no mesmo período.

Tesouro Direto, fundos imobiliários e planos de previdência, além da aquisição de imóveis, também ajudam a explicar a redução desses investidores nos fundos.

MARCAÇÃO A MERCADO

Aplicar em fundos de investimento é muito mais complexo do que aplicar em poupança, LCI ou CDB (Certificado de Depósito Bancário), por exemplo.

Um dos pontos que incomodam bastante os investidores do varejo é a instabilidade do valor das aplicações.

É muito difícil para o investidor comum compreender que sua aplicação em "renda fixa" não é fixa e oscila ao longo do tempo.

O mecanismo de marcação a mercado, que corrige diariamente os ativos da carteira a preço de mercado, deve permanecer. Como se trata de um investimento coletivo, é a única maneira de assegurar os direitos de todos os cotistas e de que nenhum deles será privilegiado em detrimento do outro.

Infelizmente, o mesmo procedimento que protege incomoda bastante e não afeta os depósitos em poupança, CDB ou LCI, cuja evolução do valor investido é sempre positiva.

"COME-COTAS"

A tributação dos fundos de investimento no Brasil é uma jabuticaba das grandes.

Nenhuma outra aplicação no Brasil ou no mundo paga Imposto de Renda antes que o ganho ocorra. Pagar imposto antes de pedir resgate e auferir ganhos? Complicado. Nenhum argumento além da necessidade do governo de arrecadar tributos justifica o fato.

Acabar com o chamado "come-cotas" dos fundos é um dos pleitos da indústria.

TIPOS DE FUNDOS

A variedade de fundos no mercado é grande. Entender a diferença entre eles não é simples. A denominação do fundo nem sempre ajuda. Pelo contrário, induz a erro na escolha do fundo.

A categoria "renda fixa", por exemplo, com fundos que investem em ativos de longo prazo atrelados a índices de inflação, oscilaram muito durante o ano, contrariando a expectativa gerada pela denominação, e desencantaram investidores.

ADEQUAÇÃO

Para aplicar em fundos, o investidor deve passar por um processo que busca identificar a adequação do produto ao seu perfil, objetivos e tolerância a riscos (a chamada política de "suitability").

Embora o conceito seja positivo, pois visa proteger o investidor e evitar que ele opte por um produto inapropriado, o mecanismo de responder a um questionário e documentar o diagnóstico gera certo desconforto e acaba alertando o investidor para riscos que ele não está disposto a enfrentar.

Ajuda a explicar por que ele acaba preferindo as alternativas que não exigem essa política.

CUSTOS

As taxas de administração cobradas pelos fundos de investimento distribuídos no varejo ainda são muito altas. Quanto menor o valor de aplicação aceito, maior a taxa e, naturalmente, menor a rentabilidade do fundo. Ainda existem fundos nas grandes instituições financeiras que cobram taxa de 4% ou 5% ao ano. Por menor que seja a sensibilidade do investidor em relação ao nível de rentabilidade, um dia ele acorda e descobre que pode ganhar mais na simples poupança, por exemplo.

MUDANÇAS

De fato, essa conjunção de fatores não conspira a favor dos investimentos em fundos, e a indústria precisa se reinventar para tentar resgatar um lugar de destaque perante os investidores. Até o final do primeiro semestre de 2014 saberemos das novidades. Para acompanhar e conferir.


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