Folha de S. Paulo


Quem ganha e quem perde com a taxa Selic de 8% ao ano

Foram generosos os rendimentos dos fundos de renda fixa e dos fundos de inflação em 2012. A valorização se explica em função da redução dos juros ocorrida ao longo do ano. A taxa Selic caiu 3,75 pontos percentuais, de 11% para 7,25% ao ano.

A queda dos juros foi tão acentuada que obrigou o governo a mudar a regra da remuneração da poupança para evitar um desequilíbrio no mercado. A taxa de 0,5% ao mês, líquida de custos e impostos, deixou de ser compatível com o novo cenário macroeconômico no país.

Em 18 de abril, a queda dos juros foi interrompida e o governo se viu obrigado a percorrer o caminho de volta, e retomar a política de elevação dos juros, numa tentativa de combater a inflação que atingiu o teto da meta.

A segunda elevação dos juros neste ano ocorreu no último dia 29 de maio com a Selic de volta ao patamar de 8% ao ano. Do ponto de vista dos investimentos no mercado financeiro, quem ganha e quem perde nesse cenário?

GANHAM

As operações de taxa pós-fixada que acompanham a variação das taxas Selic e DI. Os maiores beneficiados são as aplicações atreladas à taxa Selic: os depósitos em poupança e a Letra Financeira do Tesouro (LFT). As operações corrigidas pela Selic levam vantagem sobre as remuneradas pela taxa DI.

O rendimento da poupança nova, que acolhe depósitos feitos a partir de maio de 2012, passa para 0,455% ao mês e deve superar os ganhos dos fundos DI que cobram taxa de administração superior a 1% ao ano, se considerarmos Imposto de Renda de 20%, incidente sobre saques entre 181 e 360 dias.

Os fundos DI com baixa taxa de administração, além dos depósitos em CDB, LCI e LCA, que acompanham a variação da taxa DI, também saem ganhando.

PERDEM

Os mesmos investidores que festejaram os ganhos obtidos no ano passado com a redução juros estão descontentes agora. Como a relação entre taxa de juros e preço dos ativos é inversamente proporcional, a elevação dos juros provocou desvalorização dos títulos de taxa prefixada, como a LTN e a NTN-F, e os títulos atrelados a índices de preços, como a NTN-B e NTN-B Principal. Quanto maior o prazo do título, maior o impacto no preço. A associação desses dois componentes, elevação dos juros e prazo longo, podem gerar rentabilidade negativa.

Entretanto, essa desvalorização prejudica apenas os investidores que vendem seus ativos hoje, nesse cenário desfavorável. Aos que podem aguardar a data do vencimento do título será paga exatamente a remuneração contratada na data da aquisição.

PERFIL

As instituições financeiras são obrigadas a avaliar o perfil de risco do investidor para cumprir o conceito de "suitability", para indicar alternativas de investimento compatíveis com o horizonte de tempo, necessidade de liquidez e nível de tolerância a perdas de cada investidor.

Saiba que seu comportamento frente a oscilações de preços é revelador. Você fica desconfortável quando vê o valor de seu investimento cair, mesmo que digam que a tendência é de recuperação no médio ou longo prazo? Se esse é o seu caso, evite investimentos sujeitos a flutuação de preços e opte por produtos atrelados à taxa de juros de mercado (Selic, DI, poupança).

Sempre que você participar desse processo de avaliação de risco e estiver tomando decisões de investimento, procure saber quais são os riscos potenciais aos quais estará sujeito. Mesmo as transações de "renda fixa", aparentemente seguras, estão sujeitas a riscos: risco de crédito, proveniente da possibilidade de calote, e risco de mercado, flutuação desfavorável no preço dos ativos. Respeite seu perfil de risco, observe o tempo de disponibilidade dos recursos que estão sendo aplicados, e aceite receber remuneração compatível com essas premissas.

Para ganhar mais é preciso correr mais risco!


Endereço da página: