Folha de S. Paulo


Bananas, *&@$#...! e informação

O debate que alcançou seu auge no bate-boca entre sindicalistas e deputados teve agora um merecido anticlímax com a confusão do Instituto de Previdência dos Congressistas, o IPC de triste fama. É o Judas da vez, no país que não consegue passar uma semana sem novo bode expiatório ou bezerro de ouro. Na imprensa, deu ensejo a três tipos contrastantes de reação.

Bananada

A mais vistosa e fácil é o ressentimento moralista, que vê nos ''políticos'' o mal maior do Brasil, se não o único. (Como se Fernando Henrique Cardoso, entronizado por boa parte da chamada ''mídia'' como o salvador da pátria, não fosse também ele um político.)

Essa incontida indignação com os privilégios previdenciários dos parlamentares encontrou sua melhor expressão no gesto furibundo de Boris Casoy na terça-feira. Ele encheu o vídeo com o antebraço em riste, numa desmesurada banana.

É o emblema rematado do estágio a que chegou o debate público no país: pré-verbal.

A lista de Gibson

Mais sóbria foi a Folha. Na quinta-feira o jornal acordou para o potencial de indignação representado pela manutenção do ''status quo'' no Congresso. Saiu-se com seu tipo preferido de banana, mais ''light'' que a do âncora do ''TJ Brasil'': uma lista.

Cerca de um terço da pág. 1-4 daquele dia foi ocupado por quadro com 224 nomes de deputados federais e seus números de telefone. Todos aqueles que a Folha conseguiu identificar entre os 240 que endossaram proposta de Nilson Gibson (PSB-PE) para votar o item do IPC em separado e, claro, mantê-lo de pé. Duas páginas antes, um editorial trazia título embananado, para dizer o menos: ''*&@$#...!''

Na crítica interna da edição, dirigida pelo ombudsman a todos os jornalistas da casa no começo da tarde, elogiei a publicação da lista. É uma marca registrada da Folha, e muito temida. Ainda mais em ano de eleição e com dezenas de deputados candidatando-se a prefeito.

Logo começaram a chegar os fax de parlamentares dizendo que não era bem isso, que só tinham apoiado a tramitação, não o conteúdo da proposta Gibson... Um belo espetáculo democrático, deputados apresentando satisfações a seus eleitores.

Peta

Não causou surpresa, assim, o telefonema do leitor Henrique Levy na mesma quinta-feira, ''para elogiar'' a reportagem sobe o IPC. Concordei de pronto, mas era só uma peta do pernambucano Levy. O texto que ele queria elogiar tinha saído em outro jornal (''Gazeta Mercantil''), e no dia anterior.

Sob o título despretensioso ''Congresso resiste ao fim do IPC'', Eliane Cantanhêde garimpou no próprio IPC alguns dados e fatos reveladores:

  • ''Em todos os países considerados democráticos os parlamentares têm direito a algum tipo de aposentadoria pelo exercício legislativo'';
  • ''Para os parlamentares franceses e norte-americanos (...), a exigência para aposentadoria é de apenas cinco anos de mandato e idade de 55 anos'';
  • ''Em alguns desses países, o Estado simplesmente banca todo o pagamento dos respectivos institutos dos congressistas''.

É claro que é preciso verificar e pôr sob perspectiva essas informações, uma vez que o IPC pode tê-las enviesado. De qualquer modo, o instituto era o outro lado a ser ouvido. Não para gravar uma ou duas declarações, mas para que interessados apresentassem a sua versão dos fatos.

Nesta altura, contudo, o conceito dos deputados já valia menos do que banana em fim de feira.

Para concluir: a receita que gostaria de ver o jornal servindo a seus leitores combinaria a indignação de Casoy sublimada num editorial vigoroso com a disposição da Folha de pôr parlamentares ao alcance de seus eleitores e a capacidade da ''Gazeta'' de apresentar informações que façam o debate avançar. Nesta receita não vai banana.

Cria fama...(2)

Na sua coluna de terça-feira passada, Gilberto Dimenstein fez um terceiro ataque ao ombudsman. Prometeu encerrar de sua parte ''o debate que, a rigor, não começou''. Ótimo. Se (não) começou, foi por sua iniciativa. É justo que assim termine: sem lógica alguma.

Não há mesmo sentido em prosseguir com uma não-polêmica que teve o único objetivo de lançar suspeitas indeterminadas, pelas quais o autor pensou que não teria de responsabilizar-se, recorrendo ao artifício surrado e primitivo de omitir o nome de quem atacou.

Descaso

Se o leitor for fã de histórias em quadrinhos, esta deve ser a quarta vez que se depara com a tira logo abaixo, na Folha. Na pág. 5-2 da Ilustrada, onde só deveria ter saído uma vez, apareceu em três oportunidades (a última no dia 8).

Não dá para entender por que o jornal mantém os quadrinhos, se não consegue tratá-los com a responsabilidade devida aos leitores que os apreciam. Poderia começar, talvez, por reconhecer o erro, mas nem isso. O mais recente pedido de retificação na seção Erramos foi recusado pela Secretaria de Redação, que considera ser o caso apenas de providências internas.

Que venham, então, e sejam eficientes.


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