Folha de S. Paulo


Mais cor, mais agilidade, mais informação

A Folha inaugura amanhã uma das mais modernas oficinas de jornal diário do mundo, o Centro Tecnológico Gráfico-Folha (CTG-F), no subúrbio paulistano de Tamboré. Esse investimento de US$ 140 milhões é uma resposta aos gargalos industriais que originam muitas reclamações de leitores, como horários precoces de fechamento (finalização) de cadernos e entrega tardia aos assinantes.

Não vai ser o Paraíso na Terra, mas um passo importante. Com a entrada em operação das duas primeiras máquinas, prevista para o começo de 1996, apenas a impressão da edição São Paulo/DF será transferida para Tamboré. Na mesma data o jornal ganha cara nova, com a implantação de uma reforma gráfica radical.

Com a instalação das duas rotativas adicionais, prevista para meados do ano que vem, novo salto será dado.

Toda a tiragem do jornal, inclusive a edição nacional, estará sendo impressa no CTG-F.

O aumento de 41,6% na capacidade de impressão deverá trazer também um ganho nos horários de fechamento do jornal. Segundo a secretária de Redação Eleonora de Lucena, responsável pela área de Edição, não está definido ainda que magnitude terá, nem quais cadernos serão beneficiados:

"A prioridade é fazer a reforma gráfica, melhorar a apresentação do jornal.

Alguns horários vão melhorar, porque o jornal vai ter mais flexibilidade. A idéia é melhorar o produto como um todo".

Cor total

A nova gráfica permitirá apresentar um jornal com todas as páginas coloridas, algo inédito no Brasil. Alguns jornalistas torcem o nariz, pois acreditam que isso representaria a definitiva "tabloidização" da imprensa diária (referência aos jornais sensacionalistas dos Estados Unidos e do Reino Unido, impressos em formato menor, dito "tablóide").

Desconfio dessa associação automática entre cores e sensacionalismo. Isso pode valer para anglo-saxões, ou nem tanto, uma vez que o diário "USA Today" usa intensivamente a cor sem ser sensacionalista. Quando muito, pode ser acusado de superficialidade.

No Brasil, a cor venceu por obra de diários de prestígio, como a Folha, "O Globo" e "O Estado de S.Paulo". A Primeira Página da Folha, por exemplo, passou a ser impressa diariamente em cores em 1992. Assim, não existe esse pecado original ao sul do Equador.

Mais cor representa mais informação. Fotografias coloridas podem revelar aspectos invisíveis em preto-e-branco. O recurso, bem empregado, auxilia também na organização de quadros e gráficos. Como leitor, nada tenho contra receber um jornal mais bonito _além, é claro, de mais bem-impresso e menos borrado do que a Folha dos dias de hoje.

Fitas podres

Nada disso terá maior significado, no entanto, se a Folha não continuar investindo no básico: jornalismo.

Neste capítulo, a cobertura do jornal de todos os jornais para o caso Sivam continua deixando a desejar.

A imolação de Francisco Graziano não parece ter surtido o efeito desejado pelo Planalto. Não convenceu a todos de que ele também pediu o "grampo" do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, além de ter participado do "vazamento" das transcrições. A imprensa não foi ainda capaz de responder a perguntas cruciais: de quem partiu a ordem de investigação e o que essa pessoa sabia que seria ouvido.

Há mais. Ninguém consegue entender por que sobrevivem no cargo o diretor da Polícia Federal e o ministro da Justiça, depois de trapalhadas como enganar um juiz, investigar um íntimo do presidente sem seu conhecimento e apagar as fitas. Se é que foram apagadas.

Enquanto essas coisas não são esclarecidas, sobra adubo para fantásticas versões do "verdadeiro" conteúdo das fitas. O embaixador falante já negou que tenha dito a frase-estopim (FHC não lhe teria "pedido o que pediu" se soubesse do grampo), a ele atribuída pela revista "Veja", mas o buscapé já tinha partido.

O rastilho pode ser facilmente percebido nas entrelinhas dos jornais. Não se fala de outra coisa em Brasília, dizem. O público, coitado, só desconfia.

A Folha publica em sua capa o slogan "Um jornal a serviço do Brasil". Faria ainda mais jus a ele se contribuísse, com uma investigação feroz, para desfazer a miragem terrível de um presidente da República vulnerável à chantagem, seja dos escroques em campana, seja dos neocoronéis no Senado.

Moedas idem

Raul do Valle tira a camisa, se lava e sai de terno de banheiro no aeroporto de Guarulhos.

Um dos efeitos maléficos do caso Sivam foi tirar atenção daquela que pode ficar para a história como a maior tungada no contribuinte brasileiro. Trata-se da utilização de moedas podres nas operações de compra e fusão de bancos, possibilidade aberta pela famigerada medida provisória editada na madrugada de um sábado.

Os meandros dessa Angra-2 da engenharia financeira são complicados demais para esta coluna. No caso do Nacional, a Folha noticiou quarta-feira que seus controladores receberiam R$ 2 bilhões de presente do Banco Central, por essa via.

A notícia estava na Primeira Página, mas em chamada de apenas uma coluna, três linhas de título e abaixo da dobra. No alto, reinavam soberanos os assuntos do dia: o fracasso da caminhada "Reage Rio" e a desmagnetização das fitas pela Polícia Federal.

Na sexta o jornal voltou à carga, agora acima da dobra, para dizer que a bolsa aberta a banqueiros podia conter R$ 51 bilhões. Gente, isso é mais ou menos 10% do PIB. Com certeza há muito que discutir na cifra, e a própria Folha publicou valor menor (R$ 26,4 bilhões), mas já a ordem de grandeza é escandalosa.

Banco Central é o contribuinte. O que sair de seus cofres deixa de ser aplicado em saúde, educação, empregos, segurança, agricultura. São os cinco dedos da mão esquerda que os tucanos mostraram na campanha eleitoral. Cabe aos jornais mostrar agora, para todos, o que seu governo guarda na direita.

Tropeços

Dois maus momentos da Folha, na semana que passou: O erramos de terça-feira remetendo para reportagem pequena na pág. 1-5 e dando conta de engano na reprodução de declaração do presidente sobre Francisco Graziano. Além do erro em si, grave, sua retificação omitiu que ele tinha resultado na manchete da edição do sábado anterior, 25/11: "FHC sai em defesa de Graziano".
Sexta-feira, o "cineminha" (sequência de fotos) mostrando o substituto de Graziano no Incra, Raul do Valle, lavando os sovacos num banheiro de aeroporto (veja reprodução ao lado). É uma invasão de privacidade que não traz informação alguma para o leitor.


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